Mostrar mensagens com a etiqueta Vidinhas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Vidinhas. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"E tu? De que és inocente?" - JN


Não podia deixar de partilhar este pequeno artigo de Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, que manifesta de uma forma fantástica, aquilo que eu penso sobre o assunto.

... e mais não é preciso dizer...

"E tu? De que és inocente?" - JN



"Os seis condenados da Casa Pia vêm engrossar a chorosa lista de inocentes de que, como se sabe, estão cheios tribunais e cadeias de todo o Mundo.

Até ver, e dependendo do resto do processo, a principal diferença entre os inocentes da Casa Pia e alguns dos outros inocentes (assassinos, violadores, assaltantes) é que estes não aparecem nas TVs a fazer queixa dos juízes aos Ex. mos Srs. Telespectadores nem a sua condenação (por crimes que, obviamente, nenhum deles cometeu) faz "aterrar" sobre a Justiça o apocalíptico Reino das Trevas (ou, ainda pior, das "Trêvas").

Como os demais "inocentes", os da Casa Pia irão "até ao fim" do Universo, da Física e da Metafísica para obter a condenação dos juízes que os condenaram e, se não for pedir muito, das vítimas que lhes "fizeram mal".

Ora quis o acaso objectivo que, no mesmo dia da sentença da Casa Pia, passasse na RTP um filme em que, a certa altura, John Turturro é metido na cela onde está Schwarzenegger e faz as apresentações perguntando imediatamente: "E tu? Estás aqui inocente de quê?".

"Maravilhosos acasos, aqueles que agem com precisão", diz Bresson."

sábado, 3 de julho de 2010

Desacertos de comunicação

Hoje, no bar da entrada do Hospital de S. João:


Eu (olhando para o único tipo de empadas que lá havia) – Por favor, as empadas são de quê?

Funcionária – De vitela.

Eu – Então queria uma empada…

Funcionária – De quê? De vitela?

Eu – Porquê, tem outras?

Funcionária – Não. Só de vitela.

Eu – Pronto, é uma dessas que eu quero… e uma meia de leite directa mas morna.

Funcionária – Quer a meia de leite clarinha?

Eu – Não. Quero bem escura, mas morna.

Funcionária – Quer que lhe aqueça a empada?

Eu – Já agora, se fizer o favor.


Esperei. Passado algum tempo, a menina apresenta-me o pedido em cima do balcão: uma empada fria e uma meia de leite claríssima e muito quente.



Arre! Às vezes a vida é difícil!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

In claris non fit interpretatio!

Na entrada do meu escritório existe um letreiro que diz:


ESTE ESCRITÓRIO VIVE DOS SERVIÇOS PRESTADOS A FAMILIARES E AMIGOS.

PORTANTO, NÃO SE ESQUEÇA DE PEDIR A CONTA
.



Ora, não sei porquê, quem lá entra lê o dito, e até acha muita gracinha, apoia a ideia, mas ninguém considera que a si se aplica .
– É para os outros, de certeza! – Discorre o cliente.

Assim pensa o familiar, o familiar do familiar, o amigo, o familiar do amigo, o amigo do familiar, o amigo do amigo… e até o conhecido...


Ora bolas! O letreiro diz expressamente: AMIGOS!!!!! FAMILIARES!!!! (qual foi a parte que não entenderam????)… É lógico que este “recadinho” se aplica a TODA A GENTE!

As pessoas esquecem-se (ou querem esquecer-se) que esta é a minha PROFISSÃO (- profissão implica retribuição!).

...E depois, quem fica constrangida sou eu!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu. (Bíblia)



(imagem retirada da net)


A visita do Papa escandaliza-me! Escandaliza-me e chateia-me.
Eu percebo que a maior parte dos portugueses sejam católicos. Concebo que grande parte da população fique entusiasmada por acolher o seu chefe religioso. Também entendo que o Vaticano seja um Estado e o papa um Chefe de Estado. Até compreendo que Portugal queira ser hospitaleiro e se preocupe em receber bem este chefe religioso/de Estado… Percebo tudo isso, mas, diabo(!), não concebo (acho absolutamente abusivo) todos os exageros cometidos à volta da visita do papa a Portugal.
Numa altura em que o país se debate com uma das maiores crises económicas dos últimos anos; num período em que todos os dias nos pedem para sermos pacientes porque, a coberto da tal recessão, somos forçados que fazer sacrifícios que vão para além das nossas forças; numa época em que, a toda a hora, são implementadas medidas de austeridade; num tempo em que as empresas fecham sucessivamente as suas portas, o rendimento real / disponível das famílias diminui drasticamente, o número de desempregados aumenta de forma vertiginosa e o seu subsídio se escapule, o reemprego é coisa mirífica e a reforma cada vez mais distante e diminuta; numa era em que cada vez menos famílias têm o que pôr na mesa do jantar…

… Esbanja-se, sem pudor, 37 milhões de euros diários, na visita do papa a Portugal; dá-se tolerância de ponto aos funcionários públicos, fechando-se hospitais (com consultas e cirurgias desmarcadas) e escolas, tribunais e conservatórias, serviços de finanças e de segurança social…; monta-se a maior força de segurança de sempre em meios materiais e humanos envolvidos; encomenda-se, à “vista alegre”, um serviço de porcelana bordado a tinta de ouro para a viagem de regresso do papa; usa-se um microfone revestido a ouro; confeccionam-se vestes litúrgicas do mais fino pano e com os seus bordados a ouro, para engalanar bispos, padres e diáconos; vão buscar-se as flores à Madeira para enfeitar os diversos altares…
E tudo isto para quê?
Bem, segundo os mais devotos, entre eles o nosso Presidente da República, a visita do Papa a Portugal serve para nos transmitir esperança, confiança, e estímulo para o futuro.
Pois bem, mas como de não é com esperança que se enchem as barrigas…
Amanhã, quando todos acordarmos deste inebriante sonho, lá teremos que fazer contas à vida, e iremos perceber que, mesmo depois de todas as orações, o IVA aumentou, os bens de consumo encareceram, os rendimentos diminuíram, as empresas continuaram a encerrar, o desemprego cresceu… enfim, que estamos todos mais pobres!
Ao que parece, para além do indecoroso desperdício, o impacto na economia foi /está a ser reduzido – nem no sector hoteleiro se verificam grandes subidas.
** Recentemente foram acrescentados à lista dos “Pecados Mortais” mais alguns, os quais foram definidos pelo papa. Hoje, a Igreja católica considera pecado mortal a desigualdade social, isto é, a pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros.
E mais não digo, cada um ajuíza como quiser!


quinta-feira, 11 de março de 2010

Escravatura do Mundo Actual


Hoje dei boleia a uma mãe que tem a sua filha no mesmo infantário que o meu filho.
Aproveitou ela para me expor um caso laboral do seu marido, e aferir da sua legalidade.
Contou-me, então, que enquanto o seu marido, único "empregado" de uma certa serralharia, trabalhava, uma determinada máquina se avariou. Asseverou-me que ele a estava a utilizar da forma como sempre fez. A máquina simplesmente avariou.
Ora, o “patrão” resolveu o assunto da forma mais fácil – mais fácil e mais desonesta: Atribuiu, a seu bel prazer, um preço à máquina (mil e tal euros), e pôs o “empregado” a pagá-la.
Não lhe desconta no ordenado, é certo, mas obriga-o a trabalhar horas extraordinárias, não retribuídas, até perfazer aquele valor.
Resumindo, o “empregado” tem trabalhado todos os Sábados… a custo zero.
Bela maneira que o “patrão” encontrou para vender aquela velha máquina, sim senhor!
Nesta altura, já lá vão quatrocentos e tal euros de trabalho, que o “patrão” meteu ao bolso à custa do “empregado”.
Diz a senhora que ele é bom no que faz: “Faz um portão do princípio ao fim… e cada portão!” – afiançou-me.

Ouvi o que me disse e respondi-lhe que deveria reclamar.
A senhora objectou-me constrangida: “Como é que ele vai reclamar? Eu estou desempregada, faço umas horas em casas de senhoras. O trabalho é pouco. Temos casa para pagar, uma filha para sustentar… Ainda ontem fui dispensada de uma casa, porque, disse a patroa, estamos em crise…”
Perguntei-lhe porque é que o marido não se lançava sozinho na arte, mas imediatamente me arrependi. Dei-me logo conta que isso não era solução. As máquinas são caras e quem está aflito com as contas, não as pode comprar.
E ainda nos pedem para apertar o cinto…
Eu queria saber, qual cinto?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Bullying na escola! O drama de quem o vive…

As páginas dos jornais vêm hoje lotadas com o caso trágico ocorrido ontem, em Mirandela, com uma criança de 12 anos, que acabou por se suicidar nas águas do Tua.
Todos fomos conhecedores do caso, e todos ficamos chocados. Eu, pessoalmente, lamento-o profundamente.

Face a um caso desta envergadura, depois de acontecer o pior, ninguém tem dificuldade em identificar a sua gravidade e classificá-lo como bullying. Quanto a isso há consenso.
Todos falamos sobre o bullying, sobre a problemática envolvente, e todos nos admiramos pelo facto de não ser detectado.
Perguntamos: Como é possível ter chegado a este extremo sem ninguém ter dado conta?
Questionamo-nos sobre a incapacidade de pais e educadores agirem atempadamente.
Pois questionamos! É que nós temos uma ideia errada acerca do assunto. Consideramos que bullying é somente a violência NOTÓRIA perpetrada a um colega! Pensamos, mas pensamos mal!
Bullying não é só isso… Aliás, o bullying normalmente não começa assim…
Um agressor não é meramente aquele que espanca sistematicamente alguém. Há os agressores subtis, que quanto a mim poderão ser ainda mais perigosos do que os outros, principalmente porque não dão nas vistas. Paira, ainda, a ideia, entre pais, educadores e população em geral, que bullyin respeita apenas àqueles casos graves de espancamentos repetidos entre pares. Mas isto não é verdade.
Então, afinal, o que é isto do bullying de que tanto se fala?
Pois é, bullying consiste na violência física e/ou psicológica consciente e intencional exercida por um indivíduo ou um grupo sobre outro indivíduo, ou grupo, incapaz de se defender e que, em consequência de tal agressão, fica intimidado, podendo ver afectadas as respectivas segurança, auto-estima e personalidade.

Nesse caso… e assim sendo, a que é que podemos chamar violência?
Saberemos nós verdadeiramente quais são os contornos reais do bullying?
Não, não sabemos. Creio que o conhecimento sobre a matéria é completamente insuficiente.

Alexandre Ventura, do departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro assevera-nos que gozar, chamar nomes, ameaçar, empurrar, humilhar, excluir de brincadeiras e jogos são actos de bullying. E que embora estes sejam actos de todos os dias, que acontecem "desde sempre, desde que há crianças", devem ser atendidos com a mesma preocupação que outros que se nos apresentam mais evidentes. Acrescenta ainda que muitas vezes tais actos são considerados pelos adultos como "saudáveis" e "uma boa forma de aprender a viver e a defender-se", e como tal não se lhes dá relevância. Mas isso não é assim, pois estas atitudes, aparentemente pequenas e insignificantes, podem deixar marcas para toda a vida – podem marcar a personalidade de uma pessoa para sempre ao torná-la débil na capacidade de comunicação, ao torná-la incapaz de se afirmar em termos sociais, profissionais e amorosos. Por isso, é de primordial importância identificá-las e evitá-las.
Acrescenta, ainda, que as vítimas de "bullying" tornam-se muitas vezes pessoas tão frágeis que chegam mesmo a tentar o suicídio.
E o mais grave é que, ainda segundo aquele pedagogo, quando as vítimas procuram denunciar as situações em que vivem, "são mal recebidas, acabando por ser também vítimas de incompreensão".
"Normalmente, as vítimas sofrem em silêncio. Sentem-se ridículas e até culpadas pelo facto de serem vítimas. Os órgãos de gestão, os professores, os auxiliares de acção educativa e os pais têm de assumir as suas responsabilidades, deixarem de aceitar como normal o que é aberrante e injustificado, e agir", concluiu Alexandre Ventura.

***

E se tivermos um filho que é vítima de bullying??? O que fazemos???

Talvez não saibamos tomar as melhores atitudes… pois não… Mas a verdade é que uma lágrima de um filho transforma-se num oceano para um pai!
Conto um caso:
Numa escola de 1º ciclo, uma criança de 8 anos tem sido, quase desde o início deste ano lectivo, excluída pela maior parte dos seus colegas. Brinca apenas com uma ou outra coleguinha que também não recebem a estima dos restantes da turma. E isto não acontece porque ela (ou elas) não queira brincar com os outros colegas, acontece porque os outros não a deixam participar nas suas brincadeiras. Ou melhor, duas colegas começaram por não querer brincar com ela e diziam aos outros para também não o fazer.
O que disseram os pais desta criança massacrada?
Para não ligar, para brincar com outras meninas ou meninos, para tentar entrar no grupo, mas para ter calma porque as coisas podiam não ser fáceis e para estar preparada para as barreiras que pudessem vir a surgir. Para não entrar em conflito com ninguém, para ser amiga dos outros, para ter confiança nela.
Começaram essas duas colegas dar-lhe sapatadas e pontapés, com o aval e a protecção dos outros. Todos frequentemente lhe chamam nomes, ridicularizam as suas roupas ou o que calça (roupas e calçado normalíssimos), inventam histórias, ampliam histórias, criticam a sua maneira de ser, o que faz e o que diz, ameaçam que lhe vão bater. Criticam a sua mãe, por causa das opções políticas (que são públicas, mas não acolhem o agrado da maioria), dizem-lhe (fundamentalmente essas duas) que ela é pobre porque a mãe é de um partido de esquerda e que “por ser pobre é que está na política”.
O que lhe disseram os pais desta criança maltratada?
Que elas não sabem o que dizem, que estão erradas, que a mentalidade delas é tacanha o suficiente para não verem nada à sua frente a não ser um conjunto de factores supérfluos e vazios que não interessam a ninguém, que se pensam assim, coitados! Que ela (a agredida) é bonita (porque é), inteligente (porque é), e que o problema não está nela, mas nas outras. Que não ligasse aos insultos, mas que reagisse sempre que alguém a quisesse agredir fisicamente – que se defendesse, e caso não fosse suficiente, que atacasse também.
O que é que a pequena dizia?
Que não lhes podia fazer nada, porque eles eram muitos e para além de tudo, se reagisse iria ser posta de castigo e não queria, que era pior.
Os pais insistiam, e diziam-lhe que não se preocupasse, que caso ficasse de castigo por causa disso, logo se resolveria, mas que não podia permitir que a maltratassem.
Não reagiu.
Um dia, uma dessas duas, agrediu-a fisicamente e com violência, na zona da cabeça. Nessa altura, a pequena tinha acabado de furar as orelhas e a agressora conseguiu enterrar-lhe o brinco na orelha, que ainda não tinha acabado de cicatrizar. Uma mãe, que se encontrava pela escola, telefonou à mãe da agredida para que viesse imediatamente porque a sua filha estava a sangrar e precisava de auxílio. A mãe pôs-se na escola em menos de nada e foi informada, pelas mães que lá estavam, do que tinha acontecido. A petiza teve que recorrer aos serviços de enfermagem e foi sujeita a alguns tratamentos aí localizados.
O que fez a mãe da criança agredida?
A mãe ficou desesperada, mas entendeu que a melhor via seria a conversa. E foi conversar com a mãe da agressora, apesar das súplicas da filha para não o fazer.
- Por favor, mãe, por favor, ainda vai ser pior! – Dizia ela.
A conversa da mãe da agredida com a mãe da agressora correu bem. A mãe da agressora prometeu que iria repreender a filha, pediu desculpa e condenou a atitude, afirmou que desconhecia o que se estava a passar, que nem percebia o porquê de tudo estar a acontecer e que depois dizia alguma coisa. (Nunca disse)
A mãe da agredida pensou que o assunto, embora delicado, pudesse ter um fim ali.
Mas não terminou!
As situações de exclusão mantiveram-se, as verborreias mantiveram-se, os ataques mantiveram-se.
A preocupação dos pais agravava-se, mas a atitude mantinha-se – Reage, filha, reage! Não te deixes intimidar. Se não querem brincar contigo deixa lá, brinca com outros, vai para a beira da tua irmã, junta-te a fulana ou a sicrana. Tenta ser amiga de todos e tenta entrar no grupo aos poucos, vais ver que consegues. Não penses que o problema é teu, porque não é. Tu tens amigos nos escuteiros, no Karaté, dás-te bem com os teus primos, com outras crianças… não penses que o defeito é teu, não te culpabilizes…
Quando a mãe a ia levar à escola, ficava sempre que podia por lá, tentava dar algum apoio, pelo menos enquanto não chegavam as professoras ou a sua única amiga.
Ao sair da escola, a mãe perguntava-lhe sempre como tinha corrido o dia, e o mais discretamente que podia, se tinha estado sozinha ou tinha brincado com o grupo.
A resposta era, maioritariamente, a mesma: “Estive a brincar com Fulana, mas não te preocupes, eu não me importo que não me deixem brincar com eles, eu estou bem.”
Claro que não estava, mas os pais não podiam fazer muito. Pois, embora todos os pais queiram que os seus filhos sejam amados pelos colegas, essa não é uma tarefa que dependa deles – ninguém pode “obrigar” ninguém a gostar de ninguém.
Terça-feira passada, esta criança voltou a ser agredida com intensidade por uma dessas duas colegas.
Enquanto estava no WC com a sua única amiga, foi abordada pelas duas principais instigadoras do grupo que destilaram o seu ódio para cima dela. Perante uma reacção da agredida, uma das agressoras deu-lhe uma estalada. A agredida ia reagir, não fosse a amiga chamá-la a atenção para a circunstância de estar a sangrar pelo nariz. A pequena não quis dar parte fraca e escondeu o quanto pôde esse facto dos colegas – iria ser alvo de chacota, pensou.
No fim do dia, estava de rastos. Tinha sofrido e estava a sofrer.
Contou à mãe. Contou à irmã. Não quis contar a mais ninguém.
O que fez a mãe da criança violentada?
Insistiu para que reagisse.
Ela não fez nada, não conseguiu, mas a irmã agiu: No dia seguinte passou uma rasteira à agressora e ela estatelou-se no chão!
Fez mal? Com franqueza, deixemo-nos de querer ser politicamente correctos, deixemo-nos de tretas: Fez! Fez bem. “Defendeu” a irmã que estava a ser vítima de agressões.
Como reagiram os colegas?
Ameaçaram a vítima mais uma vez, fizeram-no em grupo, por covardia (eram 17 contra uma), preveniram-na que no recreio da tarde ela ia ver o que era bom, que aí é que ia chorar.
A criança, à hora do almoço quase tinha um colapso. Chorou, chorou, disse que não queria voltar para aquela escola, que quem lhe dera morrer!
O que fez a mãe da ofendida?
Tentou descansá-la, apoiá-la. Pediu-lhe para não se preocupar que iria resolver o problema, que não iria deixar que nada de mal lhe acontecesse.
Foi, então, falar com a professora, contou-lhe o que se passava e solicitou-lhe que estivesse especialmente atenta, que estivesse prevenida. A professora confirmou que já se tinha apercebido de alguma coisa estranha na classe, mas não sabia exactamente o quê. Que eles se peganhavam, mas que eram todos, de uma forma geral. A professora mostrou-se cooperante.
Enquanto falava com a professora, do lado de fora da escola, a mãe da agredida percebeu que o grupo agressor estava à porta da escola e continuava a ameaçar a sua filha com gestos e palavras inapropriadas. Mostravam-se insolentes e provocadores.
A mãe falou com a professora, mas não ficou sossegada, face à atitude dos colegas.
Foi trabalhar, mas não trabalhou… Passou a tarde a ver como haveria de resolver o problema. Tentou falar com uma psicóloga conhecida, mas não a encontrou. Tentou ligar para a linha bullying, mas não conseguiu – o número de telefone que consta das informações já não está activo, mudou. Quando o conseguiu saber, informaram-na que só funcionava das 18h às 20h. Esperou. Esteve a tarde toda a fervilhar.
Resolveu ir falar com a mãe de um desses colegas. Foi. A mãe dele mostrou-se preocupada, admirada e prometeu resolver o problema.
A mãe da agredida continuava a pulular. Só ficaria sossegada quando voltasse a ver a filha.
A mãe da agredida telefonou ao marido a quem contou o que se estava a passar. O pai da agredida rebentou. Foi à escola. Foram os dois à escola. Esperaram pelo toque. Agiram de cabeça quente. Estavam nervosos. Agiram!
O pai da agredida por várias vezes afirmou, em tom elevado, é verdade, que, se queriam bater na filha dele que o fizessem, mas de um para um, não 17 contra um. Desafiou (não dirigindo-se às crianças directamente, mas em alta voz) cada um dos agressores a confrontarem-se com a filha, individualmente, para se saber, afinal, quem eram os heróis.
Na frente da mãe da agredida, o colega, filho da pessoa com quem ela tinha estado a falar naquela tarde, atestou que andavam a perseguir e a bater à agredida porque aquelas duas instigadoras lhes pediam para o fazer. (Não se riam disto, e não digam que se vão é porque querem, que ninguém obriga ninguém - a valentia dos covardes apoia-se na fragilidade dos outros, e é bem mais fácil, sabêmo-lo, estar do lado dos mais fortes do que do lado dos mais fracos!)
A mãe pediu justificações ao pai de uma das principais agressoras. Mas esse pai teve uma atitude insolente tal qual a que a filha tem, foi cínico, … hipocritamente calmo. Tal atitude teve na mãe da agredida um efeito nefasto. Fê-la reagir como ela não queria reagir.
Quando a mãe da agredida, a meio da conversa, referiu ao pai da agressora que isto era bullying, o ilustre pai riu-se cinicamente, como quem diz “esta é maluca” e replicou: “bullying, ã, ora essa. E também não conhece a sua filha no contexto escola.”
Pois não, não conhece, assim como esse pai também não conhece a sua filha – ou para a filha dele essa máxima não se aplica?
Quando confrontado com o facto de ser a filha dele uma das que pedia para os outros baterem na agredida, respondeu petulante: “E quem diz isso? As crianças dizem o que quiserem.”
Em nenhuma altura este pai referiu que iria averiguar o que se passava, que a iria repreender a filha, ou que iria falar fosse com quem fosse. Este pai demonstrou que considerava que a filha dele era uma criança fofinha e inofensiva.
Os pais da agredida agiram mal?
Agiram, certamente… excederam-se… Objectivamente podemos dizer que será um comportamento incorrecto. É.
Subjectivamente?
É fácil dizer o que está certo ou errado quando não é nada connosco. É fácil dizer como mover-se quando não se trata dos nossos filhos. É fácil falar quando se está de fora. Não é fácil para quem passa por elas.
A mãe da agredida hoje foi falar com a Directora da escola, “justificar-se” e esclarecer qualquer mal entendido.

… Quiseram os agressores hoje passar a vítimas…
Fizeram-no de tal forma que a criança agredida afiançava, ao sair da escola, que a culpa era dela. Que ela é que tinha provocado tudo…
Mal de nós se depois tudo isto os agressores passam a vítimas e os agredidos passam a carrascos!!!!

E agora pergunto: Ter-se-à consciência de que isto é bullying? Não!
“São atitudes de crianças”, disseram-me! Bullying não é.

Não????
Volto à pergunta crucial: O que é o bullying? Como se manifesta? Quais as suas consequências?
Podemos obter respostas aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui.
Penso que precisamos todos de mais informação sobre o tema. Professores, funcionários das escolas, pais, deveriam ter formação específica sobre esta matéria. Deveriam saber exactamente como detectar estas conjunturas, como agir, o que fazer.
Há que denunciar as situações. Os agredido, ou seus pais, não devem envregonhar-se, deixem essa vergonha para os agressores e os seus progenitores que é a quem ela pertence.
Há que referenciar as crianças que atacam, identificá-las, vigiá-las, corrigi-las.
Há que defender os que padecem, protegê-los, apoiá-los.
É de primordial importância que exista nas escolas um espaço, um gabinete, aonde as crianças e jovens, vítimas ou simples testemunhas, possam ir denunciar aquilo que viveram ou viram acontecer.
Deixo um alerta: Pais, estejam atentos. Ajam! E façam-no quer os vossos filhos estejam na posição de vítimas quer estejam na de ofensores.
Existe uma linha específica para o bullying, que pertence à Associação Nacional de Professores, para a qual se pode ligar das 18h às 20h: agora esse número é o 961 333 059.
Falem na escola atempadamente, digam à professora, à Directora, aos funcionários.
Se não obtiverem resposta positiva da escola, contactem a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, o Ministério Público. O Agrupamento, a DREN, o Ministério da Educação, a Ministra se for preciso. O Primeiro-ministro, o Presidente da República. Seja quem for.
Denunciem, não fiquem calados.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ideiasmix!

Liberdade de expressão!

Dizem que não há liberdade de expressão em Portugal! Dizem…
Cá por mim continuo a dizer que liberdade não é dizer, nem fazer o que se quer… Há regras que convém que sejam cumpridas para que possamos todos beneficiar da dita liberdade.
O caso do dia é a história do Jornal Sol, que não sei o quê, e que não pode dizer o que quer, e não sei o que mais, porque o Governo quer controlar a comunicação social…
Será?
Pois, ainda que seja verdade, o que me parece é que nada do que se está a passar em Portugal tem a ver com LIBERDADE (devíamos dar mais valor a esta palavra, caramba!), mas com interesses partidários opostos.
A realidade é que alguns jornalistas (ressalvas feitas aos bons – que ainda os há – JORNALISTAS) pretendem eles próprios controlar, a favor das suas convicções políticas e partidárias, os órgãos de comunicação social e utilizá-los como "contra poder" do governo instituído.
Pois, pensemos então quem detém os principais jornais, os principais canais de televisão, as principais estações de rádio… (Se pensarmos bem, concluímos).
Um jornalista tem que ser isento e transmitir NOTÍCIAS. Não lhe cabe o papel das propagandas partidárias oposicionistas (de direita), nem lhe compete gerar o caos e a desconfiança das instituições. (Isto do “governo sombra” já tem lugar na TSF).

Agora, terem comparado estas confusões, que por aqui se vão passando, ao caso Watergate… bem, eu fiquei sem saber se havia de rir se havia de chorar!


Orçamento de Estado

Depois de assistirmos a formações de Governos que conciliaram partidos como PSD/CDS; PS/CDS; PS/PSD, estávamos à espera de quê?
Ainda estaríamos a pensar que o PS faria qualquer tipo de acordo com os partidos de esquerda?
Ainda poderíamos duvidar quais as tendências do actual partido do Governo?
Ontem, quando vinha a ouvir os discursos proferidos no Parlamento português, não pude deixar de sorrir… Dizia então o governo que era tão bom que até tinha conseguido um entendimento com os partidos, por forma a conseguir a aprovação (responsável) do orçamento de estado… E que, claro, os partidos de esquerda eram uns perfeitos irresponsáveis!
Está claro! Alguém (ainda) tinha dúvidas sobre esta aprovação e sobre os parceiros escolhidos pelo governo?
Mais um ano de “vira o disco e toca o mesmo” – Os portugueses aplaudem!



Festa no Centro Social de S. Miguel O Anjo – Calendário, Vila Nova de Famalicão


Ontem fui assistir ao lançamento do livro do Pe Adelino Costa “Venha a Nós o Vosso Reino”, e seguidamente à apresentação do projecto do Lar de Idosos que vai ser construído em Calendário, pela mão do Centro Social de Calendário.
Digamos que fui assim que a modos de obrigada! Pois, o meu filho pequeno é utente do Centro, no Jardim de Infância, e este ano é finalista. Como tal, os finalistas foram cantar umas musiquinhas na abertura do acontecimento e, a família, claro, foi levá-lo e assistir.

Bom, assim como assim, não esperámos pelo final, mas tivemos tempo para assistir a uma parte substancial do espectáculo!

[Ai que nada me correu bem!
Primeiro, hoje era dia de irem fantasiados, e pronto, lá fomos nós, ontem no final da escola (depois das 18h15) correr todas as lojas “dos chineses” que há cá na terra.
- Olha esta que gira (dizia eu suplicante).
- Esta não, porque tem não sei o quê… Aquela não, porque falta-lhe não sei que mais… A outra também não, porque não sei já porquê…
A seguir, comprar algo para fazer para o jantar… e correr para casa.
- Tudo para a banheira, rápido, não temos muito tempo! (ordenava)
- Já vou mãe, já vou… (Raios! Passava das 20h30 e ainda havia gente na banheira).
Finalmente, eram já 20h45, e nada de pai em casa.
- Então, demoras? Daqui a pouco o teu filho tem que estar em cima do palco a cantar (perguntava eu ao telefone).
- Já vou, já vou, estou a chegar…
(AI cá nervos!)]

Resumindo, fomos sem jantar e após um dia completamente stressante.
Concluindo, só quando o meu filho estava em cima do palco é que me lembrei que me tinham pedido para ele ir de calças de ganga e com uma camisola azul escura. Ele estava diferente, foi com a roupa que tinha vestido pela manhã; e logo ontem tinha que o ter vestido com umas calças pretas e uma camisola preta e cinzenta às riscas! (Pronto, não faz mal, faz de conta que era a estrela, as estrelas têm que se destacar dos outros…)

Bom, mas como disse, foi o lançamento do livro do Pe Costa. E como tal, Calendário recebeu os ilustres do Distrito. Na mesa de honra tiveram lugar, para além do autor do livro e o Padre da Paróquia, Sua Eminência o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga; Sua Ex.ª o Governador Civil de Braga, Dr. Fernando Moniz; Sua Ex.ª o Presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa.
Ora, este evento decorreu em Calendário, e Calendário tem um Presidente de Junta. Pois, mas o Presidente de Junta não teve lugar na mesa de honra! Isto não me pareceu nada bem! Então não era de dar um lugar naquela mesa ao Presidente de Junta? Acharam que não! Mas eu acho que sim.
Quem me conhece sabe que eu até nem gosto nada do Sr., sabe também que nas eleições últimas fui sua opositora política (ele como cabeça de lista pela coligação PSD/CDS-PP, eu como cabeça de lista pelo BE; ele eleito, naturalmente, eu não eleita), mas que ele é o Presidente de Junta de Calendário, lá isso é. Como tal, parece-me que foi um bocadinho desprestigiante obrigar o Sr. a ocupar o mesmíssimo lugar que qualquer outra pessoa, no público. Digo eu, vá!
...Aquele ambiente cheirava-me a hipocrisia… cheirava-me não, tresandava-me! Aposto que a maior parte das pessoas que compraram o livro e que, em sorrisos derretidos foram solicitar um autógrafo, não querem saber nada dessas coisas do reino de Deus e isso, mas pronto, quem sou eu para falar.
Em seguida, o autor apresentou o seu livro. Um livro religioso, já se vê, nem podia deixar de ser.
Tive que me reter, para não parecer tresloucada. Acreditem que me apeteceu levantar e perguntar: “O Sr. Pe acredita mesmo nisso que está a dizer, ou só o diz por dizer? É que não lhe vejo qualquer convicção.” Contive-me, e ainda bem! A minha família iria ficar envergonhadíssima!

Posteriormente, ainda vimos e ouvimos a apresentação do projecto do lar.
Francamente? Achei normalíssimo, nada de especial, sem graça nenhuma, mas podia ser da fome e do cansaço… Eu não sou arquitecta, é verdade, mas pelo dinheiro que se vai gastar… já vi coisas bem mais bonitas!
Seguiram-se os discursos dos ilustres, mas esses já não tivemos pachorra para ouvir. De mansinho, saímos todos porta fora. Á saída ainda me perguntaram: "E o livro? Não compra?" Mas não, não comprei... Tenho mais onde gastar o meu dinheirinho!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Conversas esquisitas!


Há muitos anos (tantos que já nem me lembra quantos), fui com o namorado que ora tinha, a um bar em Matosinhos.
A certa altura, apareceu uma rapariga, com os seus 16, 17 anos, que o cumprimentou efusivamente. Após as apresentações, ela sentou-se na nossa mesa, postando um sorriso constante no rosto e um à-vontade meio pateta.
Enquanto ele saiu por uns instantes para ir buscar umas bebidas, ela resolveu manter a conversa comigo e tornar-se tão íntima quanto o tempo lhe permitia. Sem mais nem propósito, atira:
Ela – A primeira vez que fiz sexo oral foi neste bar.
Eu – Ah?!
Ela – Sim, e foi com o teu namorado.

#Quase que tive um desmaio…#
Ela – É… foi outro dia… Olha, estávamos naquela mesa…
Eu (meia desmaiada!!!) – Ah???!
Ela – Eu estive a contar-lhe as minhas aventuras com o meu namorado… Ele só se ria.
Eu (ainda em transe) – E foi só isso???
Ela – Sim, estivemos a falar…

#UFA!!!# Ainda bem que o sexo oral não passou de oralidade mesmo! Credo!!!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Se os Tubarões Fossem Homens - Bertold Brecht



Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adoptariam todas as providências sanitárias possíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não morressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Levar-se-ia os peixinhos a pensarem que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo, os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que se entendam uns ao outros. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas goelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as goelas dos tubarões. A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as goelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também professariam uma religião.
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um bocadinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmo obteriam assim, com mais regularidade, bocados maiores para devorar. E os peixinhos maiores que detivessem os cargos velariam pela ordem entre os peixinhos mais pequenos, para que estes chegassem a ser professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante.
Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sempre oportuno...





Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.


Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

Bertolt Brecht

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Na Terra do Medo!

Vejo, com grande tristeza, que na nossa terra não se debate com abertura, não se contesta com frontalidade, não se luta pelo que se acha certo, não se enfrentam com coragem os problemas.
Parece-me estranho existir quem vê, ouve, sabe, sente a injustiça (dirigida a si ou aos outros); vê, ouve, sabe, sente um caso (ou mais) de corrupção; vê, ouve, sabe, sente uma situação de tráfico de influências… e fique calado. E ficar calado é NÃO DENUNCIAR PELOS MEIOS PRÓPRIOS.
Parece-me estranho que não se lute por algo em que se acredita. Parece-me estranho que não se apoie quem julgamos que tem razão.
A primeira vez que tive contacto com um processo judicial de alguém aqui de Famalicão, ainda eu exercia a minha actividade no Porto. Nessa altura, fui surpreendida pelo meu cliente quando ele me asseverou QUE NÃO TINHA TESTEMUNHAS.
- Mas não tem testemunhas? Não tem testemunhas como? Porquê? Ninguém viu? - Perguntei abismada.
- Não, não é isso… – explicou timidamente – As pessoas não querem ser testemunhas…
- Não querem ser testemunhas? Não querem ser testemunhas, porquê? – Continuava eu cada vez mais admirada.
E não queriam porque não queriam pôr os seus empregos em causa; não queriam confusões; não se queriam expor… enfim, porque tinham MEDO.
- Medo? MEdo? MEDo? Mas MEDO de quê? Medo porquê? – Indagava espantadíssima.
Na realidade, não entendi. Não entendi nem aceitei.
- É impossível! O Sr. fale com os seus colegas, explique-lhes a situação, alguém há-de ser sua testemunha.
O assunto, naquele dia, ficou por ali, mas para mim estava longe de ser encerrado.
Depois disso, insisti com o cliente até à exaustão… Telefonei-lhe enumeras vezes, marquei imensas consultas, sempre com o mesmíssimo assunto:
- Então, Sr. X, já arranjou testemunhas? Sabe que sem testemunhas não há processo? – Dizia-lhe eu.
E ele sabia, mas a sua resposta era sempre a mesma:
- Sabe… ninguém quer… eu até compreendo, eles têm a vida deles e não os posso prejudicar…
- Não os pode prejudicar? Isso não pode ser! Hoje é o Sr. que precisa deles, amanhã são eles que precisam de si… - Pois quem não compreendia era eu.
O tempo foi passando, até que chegou a hora de apresentar o chamado ROL DE TESTEMUNHAS. Já não tínhamos tempo para hesitações, era mesmo urgente indicar alguns nomes, caso contrário, teríamos que desistir da acção.
Nessa altura, afirmei-lhe que qualquer cidadão, conhecendo os factos, tem obrigação de ser testemunha e que os deve relatar com verdade em Tribunal. Ele, a medo, respondeu que haveria de indicar esses nomes…
… E assim foi…
O limite máximo de testemunhas, naquele caso, era de 20 – 5 por cada quesito – e o Sr. X ofereceu 20 depoentes.
- Então, Sr. X, sempre conseguiu quem viesse confirmar a sua história? – Disse.
- Pois, parece que sim. – Balbuciou ele.
- Vamos lá ver… o que sabem elas? – Inquiri.
- Tudo… - Retorquiu. – Todas trabalham lá, todas viram isto, aquilo, aqueloutro…
- Pronto… - Disse eu vitoriosa – afinal temos testemunhas!
Preparamos o julgamento, decidimos ao que cada uma ia responder… e estávamos confiantes… Nada podia falhar. É claro que, aquelas pessoas, tendo conhecimento do que se tinha passado, não iriam ter a CORAGEM de o negar em Tribunal.
Lá isso era, era se fosse!
Chegou o dia do julgamento… começou a ouvir-se a prova (A NOSSA PROVA, POIS CLARO!)… As testemunhas foram entrando… e eu instando…
- Bom dia Sr.ª Testemunha. Diga-me, por favor, sobre este assunto o que se passou?
E as ditas, uma a uma, foram respondendo:
- Não sei, não vi, não sei…
Não queria dar-me por rendida, e teimei:
- Mas, no dia tal a Sr.ª Testemunha não estava no seu posto de trabalho?
- Ah, e tal, estava... mas não vi, não ouvi, não sei de nada… - Asseguravam.
Primeira, segunda, terceira, quarta … vigésima testemunha, todas com a mesma resposta.
- O quê? Não sabe? Não viu? Não ouviu? – Perguntava enquanto entreolhava o cliente completamente incrédula.
Estava escandalizada! Não sabia que isto podia acontecer! Não estava habituada a isto!
Normalmente travava combates duríssimos, onde as partes contestantes disputavam em pé de igualdade. Estava acostumada a ver os adversários apresentarem-se em Juízo com as mesmas armas. Até estava avezada a ver gente oferecer-se para testemunha, imagine-se!
Pois bem,… Terminou o julgamento, foi proferida a sentença… e, claro está, a acção foi julgada totalmente improcedente por falta de prova…
Devo dizer que a primeira experiência profissional aqui na terra me deixou profundamente decepcionada!
A partir daí, mais casos se sucederam… E a resposta primeva ao meu pedido de testemunhas é invariavelmente a mesma: EU NÃO TENHO TESTEMUNHAS… NINGUÉM QUER…
E ninguém quer porque TEM MEDO! Medo sabe-se lá do quê! Medo principalmente de desarranjar as suas vidinhas… que estão tão bem assim… Problemas para quê?
…É esta consciência humana que, por mais que me esforce, não consigo compreender, não aceito nem me resigno!