Escreve!
Sou árabe
e o meu bilhete de identidade é o cinquenta mil;
tenho oito filhos
e o nono chegará no final do Verão.
Vais zangar-te?
Escreve!
Sou árabe.
Trabalho na pedreira
com os meus companheiros de infortúnio.
Arranco das rochas o pão,
as roupas e os livros
para os meus oito filhos.
Não mendigo caridade à tua porta,
nem me humilho nas tuas antecâmaras.
Vais zangar-te?
Escreve!
Sou árabe.
Sou um homem sem título.
Espero, paciente, num país
em que tudo o que há existe em raiva.
As minhas raízes,
foram enterradas antes do início dos tempos
antes da abertura das eras,
antes dos pinheiros e das oliveiras,
antes que tivesse nascido a erva.
O meu pai descende do arado,
e não de senhores poderosos.
O meu avô foi lavrador,
sem honras nem títulos,
e ensinou-me o orgulho do sol
antes de me ensinar a ler.
A minha casa é uma cabana,
feita de ramos e de canas.
Estás feliz com o meu estatuto?
Tenho um nome, não tenho título.
Escreve!
Sou árabe.
Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com os meus filhos;
não me deixaste nada,
apenas estas rochas;
O governo vai tirar-me as rochas,
como me disseram?
Escreve, então,
no cimo da primeira página:
a ninguém odeio, a ninguém roubo.
Mas, se tiver fome,
devorarei a carne do usurpador.
Tem cuidado!
Cuidado com a minha fome,
Cuidado com a minha ira!
(Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza!)
É triste demais estas lutas sem sentido, em prol do bem de outro alguém (os que ganham com a guerra). E por tudo o mundo o pobre é sempre o que paga a factura seja em que circunstância se apresente.
ResponderEliminarHá que não perder a esperança para conseguirmos concluir a nossa travessia com coragem!...
Beijos
Angel
Angel,
ResponderEliminarÉ isso que eu penso muitas vezes: na coragem para poder concuir a travessia... mas às vezes é tão complicado...
Obrigada, sempre, pelas palavras amigas...
Um beijinho
Teresinha
ResponderEliminarOnde encontraste este poema tão lindo?
Viva D. Alda!
ResponderEliminarFaz parte de uns (muitos) poetas e poesias que adoro... (um pacifista árabe).
Beijinhos
Para que se saiba que há "um país em que tudo o que há existe em raiva". Belissimas palavras para uma realidade tão estúpida!
ResponderEliminarE nós, aqui do lado dos "bons" (arggg) continuamos cegos... num país em que tudo o que há existe em egoísmo...
Manuel,
ResponderEliminarTem toda a razão do mundo! Sem dúvida.
Um abraço
Não conhecia e gostei muito. Bem a propósito, aliás...
ResponderEliminarCarlos,
ResponderEliminar... Vamos ver o que acontece agora...
Não conhecia o poema Gostei imenso. Gosto de tudo que partilha :-)
ResponderEliminar