segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Qual é a família tradicional que se quer preservar ?...

Ponto morto

A minha primeira mulher
se divorciou do terceiro marido.
A minha segunda mulher
acabou casando com a melhor amiga dela.
A terceira (seria a quarta?)
detesta os filhos do meu primeiro casamento.
Estes, por sua vez, não suportam os filhos
do terceiro casamento da minha primeira mulher.
Confesso que guardo afeto pelas minhas ex-sogras.
Estava sozinho
quando um dos meus filhos acenou para mim no meio do engarrafamento.
A memória demorou para engatar o seu nome.
Por segundos, a vida parou, em ponto morto.


Augusto Massi (Escritor brasileiro)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Loucos e Santos



Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade loucura, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, brincalhões e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Língua Gestual Portuguesa


Há uns anos, assisti a um julgamento em que os arguidos eram todos, ou quase todos (já não me lembra…) surdos-mudos.
O julgamento teve, como manda a lei, interprete…
Confesso que fiquei fascinada e a partir daí comecei a investigar um pouco sobre a matéria.
Fiquei a saber que era errado dizer-se Linguagem Gestual. Que a forma correcta é Língua Gestual – Esta língua tem todas as características que tem qualquer outra língua: vocabulário próprio; alfabeto específico; gramática…
Também fiquei a saber que as pessoas que usam a Língua Gestual não são necessariamente surdas - é antes a forma pela qual comunicam pessoas que não conseguem verbalizar sons e / ou não conseguem ouvir; e que às vezes os surdos, quando treinados, podem verbalizar palavras.
… Diferentes países têm diferentes línguas gestuais…
A utilizada em Portugal chama-se LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Nem tudo está mal!

A EB1 Conde S. Cosme tem um novo funcionário: O Sr. José.
A primeira vez que tive oportunidade de falar com ele, disse-me, referindo-se às crianças: «Sou suficientemente velho para os aconselhar, e suficientemente novo para os compreender!»
E é verdade…
Desde que chegou àquela escola – há coisa de um mês – o Sr. José já conquistou alunos, professores, e encarregados de educação…
… Já podou árvores, já varreu folhas, já demarcou os lugares de estacionamento…
… Já construiu uma árvore de Natal, bem original, no pátio da escola…
… É ele que está ao portão a controlar as entradas e as saídas dos alunos, e sempre com um sorriso…
… É ele que leva os miúdos do horário normal à cantina para almoço, e ele que os traz…
… Ele tem tempo para as brincadeiras na hora do recreio…
… Ele ajuda a estacionar, e salta para o volante dos veículos dos condutores mais inábeis…
… E, ao que parece, gosta do que faz…
Viva o Sr. José!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Domus Iustitiae...

Um dia igual a tantos outros! No Tribunal…

– Atenção, por favor, vou proceder à chamada do Xº Juízo.
- Proc. nº XXX/08.XTJXXX:
- Arguidos?
- Presente(s).
- Queixoso?
- Presente.
- Mandatários?
- Presente(s).
- Testemunhas?
- Presente(s).
- As pessoas que eu chamei dirijam-se, por favor, para a frente da Sala de Audiências nº 1 e aguardem.

(Passado meia hora…)

- Proc. nº XXX/08.XTJXXX, em que são arguidos Fulano, Beltrano e Sicrano… O Julgamento vai ser adiado para a próxima data, já designada, por INDISPONIBILIDADE DO TRIBUNAL. As pessoas que eu chamei ficam desde já notificadas, e não será necessária outra convocação.
Quem precisar de justificação, dirija-se à secretaria…

E ainda se pergunta porque é que a Justiça é lenta!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sempre oportuno...





Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.


Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

Bertolt Brecht

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Na Terra do Medo!

Vejo, com grande tristeza, que na nossa terra não se debate com abertura, não se contesta com frontalidade, não se luta pelo que se acha certo, não se enfrentam com coragem os problemas.
Parece-me estranho existir quem vê, ouve, sabe, sente a injustiça (dirigida a si ou aos outros); vê, ouve, sabe, sente um caso (ou mais) de corrupção; vê, ouve, sabe, sente uma situação de tráfico de influências… e fique calado. E ficar calado é NÃO DENUNCIAR PELOS MEIOS PRÓPRIOS.
Parece-me estranho que não se lute por algo em que se acredita. Parece-me estranho que não se apoie quem julgamos que tem razão.
A primeira vez que tive contacto com um processo judicial de alguém aqui de Famalicão, ainda eu exercia a minha actividade no Porto. Nessa altura, fui surpreendida pelo meu cliente quando ele me asseverou QUE NÃO TINHA TESTEMUNHAS.
- Mas não tem testemunhas? Não tem testemunhas como? Porquê? Ninguém viu? - Perguntei abismada.
- Não, não é isso… – explicou timidamente – As pessoas não querem ser testemunhas…
- Não querem ser testemunhas? Não querem ser testemunhas, porquê? – Continuava eu cada vez mais admirada.
E não queriam porque não queriam pôr os seus empregos em causa; não queriam confusões; não se queriam expor… enfim, porque tinham MEDO.
- Medo? MEdo? MEDo? Mas MEDO de quê? Medo porquê? – Indagava espantadíssima.
Na realidade, não entendi. Não entendi nem aceitei.
- É impossível! O Sr. fale com os seus colegas, explique-lhes a situação, alguém há-de ser sua testemunha.
O assunto, naquele dia, ficou por ali, mas para mim estava longe de ser encerrado.
Depois disso, insisti com o cliente até à exaustão… Telefonei-lhe enumeras vezes, marquei imensas consultas, sempre com o mesmíssimo assunto:
- Então, Sr. X, já arranjou testemunhas? Sabe que sem testemunhas não há processo? – Dizia-lhe eu.
E ele sabia, mas a sua resposta era sempre a mesma:
- Sabe… ninguém quer… eu até compreendo, eles têm a vida deles e não os posso prejudicar…
- Não os pode prejudicar? Isso não pode ser! Hoje é o Sr. que precisa deles, amanhã são eles que precisam de si… - Pois quem não compreendia era eu.
O tempo foi passando, até que chegou a hora de apresentar o chamado ROL DE TESTEMUNHAS. Já não tínhamos tempo para hesitações, era mesmo urgente indicar alguns nomes, caso contrário, teríamos que desistir da acção.
Nessa altura, afirmei-lhe que qualquer cidadão, conhecendo os factos, tem obrigação de ser testemunha e que os deve relatar com verdade em Tribunal. Ele, a medo, respondeu que haveria de indicar esses nomes…
… E assim foi…
O limite máximo de testemunhas, naquele caso, era de 20 – 5 por cada quesito – e o Sr. X ofereceu 20 depoentes.
- Então, Sr. X, sempre conseguiu quem viesse confirmar a sua história? – Disse.
- Pois, parece que sim. – Balbuciou ele.
- Vamos lá ver… o que sabem elas? – Inquiri.
- Tudo… - Retorquiu. – Todas trabalham lá, todas viram isto, aquilo, aqueloutro…
- Pronto… - Disse eu vitoriosa – afinal temos testemunhas!
Preparamos o julgamento, decidimos ao que cada uma ia responder… e estávamos confiantes… Nada podia falhar. É claro que, aquelas pessoas, tendo conhecimento do que se tinha passado, não iriam ter a CORAGEM de o negar em Tribunal.
Lá isso era, era se fosse!
Chegou o dia do julgamento… começou a ouvir-se a prova (A NOSSA PROVA, POIS CLARO!)… As testemunhas foram entrando… e eu instando…
- Bom dia Sr.ª Testemunha. Diga-me, por favor, sobre este assunto o que se passou?
E as ditas, uma a uma, foram respondendo:
- Não sei, não vi, não sei…
Não queria dar-me por rendida, e teimei:
- Mas, no dia tal a Sr.ª Testemunha não estava no seu posto de trabalho?
- Ah, e tal, estava... mas não vi, não ouvi, não sei de nada… - Asseguravam.
Primeira, segunda, terceira, quarta … vigésima testemunha, todas com a mesma resposta.
- O quê? Não sabe? Não viu? Não ouviu? – Perguntava enquanto entreolhava o cliente completamente incrédula.
Estava escandalizada! Não sabia que isto podia acontecer! Não estava habituada a isto!
Normalmente travava combates duríssimos, onde as partes contestantes disputavam em pé de igualdade. Estava acostumada a ver os adversários apresentarem-se em Juízo com as mesmas armas. Até estava avezada a ver gente oferecer-se para testemunha, imagine-se!
Pois bem,… Terminou o julgamento, foi proferida a sentença… e, claro está, a acção foi julgada totalmente improcedente por falta de prova…
Devo dizer que a primeira experiência profissional aqui na terra me deixou profundamente decepcionada!
A partir daí, mais casos se sucederam… E a resposta primeva ao meu pedido de testemunhas é invariavelmente a mesma: EU NÃO TENHO TESTEMUNHAS… NINGUÉM QUER…
E ninguém quer porque TEM MEDO! Medo sabe-se lá do quê! Medo principalmente de desarranjar as suas vidinhas… que estão tão bem assim… Problemas para quê?
…É esta consciência humana que, por mais que me esforce, não consigo compreender, não aceito nem me resigno!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

DESIGUALDADES?...

Há uns tempos, abriu uma florista por baixo do meu escritório. Quis ela, então, colocar um pequeno tolde por cima da sua porta.
Foi à Câmara… E veio aqui…
Na Câmara tinham-lhe exigido umas certas declarações dos vizinhos, autorizando-lhe a colocação do dito tolde. Sem isso, nada feito!
Passamos a declaração, carimbada e assinada, tal como impôs a autarquia.
No mês passado abriu a Parfois… Hoje espreitei para a rua... e qual não foi o meu espanto quando vi dois grandes toldes pretos em toda a extensão da loja. Um, exactamente por baixo da minha janela, o outro, por baixo da minha varanda.
A mim, pelo menos, ninguém me pediu permissão...

sábado, 7 de novembro de 2009

Biografia de Francisco Louça

Está já nas livrarias, editado pela Bretrand, a Biografia de Francisco Louçã, da autoria de António Simões do Paço.
Apesar dos seus 53 anos (nasce a 12 de Novembro de 1956), o coordenador do Bloco de Esquerda é detentor de um longo percurso político, e de um curriculum académico e profissional invejável.
Desde muito novo marcou posição na luta contra o fascismo e a guerra colonial, participando activamente no movimento estudantil dos anos setenta. Em Dezembro de 1972 foi preso na Capela do Rato, sendo depois libertado de Caxias sob caução. Entre 1973 e 1978, pertenceu à LCI, e fez parte da estrutura da direcção. Fundou, em 1979, o PSR, partido que veio a integrar o Bloco de Esquerda, em 1999.
É, desde a instituição do BE, membro da sua direcção e por este partido foi eleito deputado por Lisboa em 1999, reeleito em 2002, em 2005 e 2009.
Em 2006, candidata-se à Presidência da República.
É membro da Direcção do Partido da Esquerda Europeia.
No Parlamento, pertence às comissões da área de economia e finanças e, durante uma legislatura, pertenceu igualmente à comissão de liberdades, direitos e garantias. Foi um dos intervenientes na preparação da reforma fiscal parcial de 2000. Fez parte de várias comissões de inquérito e dirigiu a bancada do Bloco de Esquerda no parlamento durante alguns anos.
Apresentou e defendeu inúmeros projectos de lei da sua bancada, alguns dos quais foram aprovados: criminalização da violência doméstica, acesso livre à contracepção de emergência, descriminalização do consumo de drogas e nova política para a toxicodependência, legalização das medicinas alternativas, lei sobre a informação genética e pessoal de saúde, redução dos prazos do trabalho a prazo, novas políticas fiscais e outras. Defendeu projectos de extrema importância para o desenvolvimento do país, mas que foram recusados, nomeadamente sobre a criação de um imposto sobre as grandes fortunas, sobre as regras para o levantamento do segredo bancário para efeitos de combate à fraude fiscal, generalização da banda larga, separação entre drogas leves e duras, administração médica de canabinóides em doentes terminais e crónicos e outros.
Participou como convidado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre e em diversos fóruns e contra-cimeiras na Europa. Participou em conferências políticas em diversos países, como a França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Suíça, Países Baixos, Bélgica, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, Nicarágua, Equador, Colômbia e Argentina.
Como estudante, Francisco Louçã foi brilhante: No liceu Padre António Vieira, em Lisboa, onde estudou, foi galardoado com o prémio Sagres, atribuído aos melhores alunos do país; no Instituto Superior de Economia, foi distinguido com o prémio Banco de Portugal, para o melhor aluno de economia; também no ISE concluiu o mestrado, recebeu o prémio JNICT, para o melhor aluno e terminou o doutoramento, tendo nas provas de agregação aprovação por unanimidade.
Como Professor Universitário seguiu uma carreira repleta de méritos: Em 2004 venceu o concurso para Professor Associado, por unanimidade do júri. É Professor Catedrático do Departamento de Economia do ISEG, em Lisboa, onde tem continuado a dar aulas e preside a um dos centros de investigação científica (Unidade de Estudos sobre a Complexidade na Economia).
Foi professor visitante na Universidade de Utrecht e apresentou conferências nos EUA, Inglaterra, França, Itália, Grécia, Brasil, Venezuela, Noruega, Alemanha, Suíça, Polónia, Holanda, Dnamarca, Espanha.
Francisco Louçã é ainda autor de uma ampla obra no campo da economia e do ensaio político. Publicou artigos em revistas internacionais de referência em economia e física teórica e é um dos economistas portugueses com mais livros e artigos publicados traduzidos em inglês, francês, alemão, italiano, russo, turco e japonês.
Em 1999, recebeu o prémio da History of Economics Association para o melhor artigo publicado em revista científica internacional. É membro da American Association of Economists e de outras associações internacionais, tendo tido posições de direcção em algumas; membro do conselho editorial de revistas científicas em Inglaterra, Brasil e Portugal; “referee” para algumas das principais revistas científicas internacionais (American Economic Review, Economic Journal, Journal of Economic Literature, Cambridge Journal of Economics, Metroeconomica, History of Political Economy, Journal of Evolutionary Economics, etc.).
A par desta ampla activdade política e profissional, Louçã ainda encontra tempo para desfrutar os seus tempos livres com a filha e a mulher, a médica Ana Campos, com quem já vive há cerca de 30 anos.
Francisco Louçã é hoje, sem dúvida, dado o seu precioso curriculum, uma figura de referência para Portugal.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Porque eu gosto...

Cântico Negro

Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio