quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Homenagem a um amigo Poeta (do Penedo)!

Soube, há uns tempos, que o meu (nosso) amigo Poeta do Penedo era, para além de um conceituado Músico, também um respeitado Letrista…
Assim, lancei-lhe o repto de aqui publicar uma (ou mais) dessas músicas, onde ele tivesse participado como Baterista e cuja letra fosse da sua autoria.


… Investiguei…


Fiquei então a saber que, entre 1989 e 1995, o nosso Poeta tinha participado de um Grupo Coral Infantil, do qual, aliás, foi seu fundador, por terras de Aveiro.
Tudo isto se passou na época em que desabrocharam os “Ministars” (quem não se lembra disso!?!), que fizeram, à data, imenso sucesso... e o nosso Poeta – e o seu grupo – tentaram fazer coisa parecida.
Então, puseram mãos à obra e seguiram em frente!

Umas vezes, socorreram-se de músicas já conhecidas, para as quais criaram letras que se lhes adaptassem. Outras vezes, a maestrina Elsa Martins, companheira de guerra do nosso Poeta, compôs excelentes canções.

Criaram, assim, um reportório de 30 músicas – O que revela um trabalho fantástico e prova muita dedicação e talento! Dessas, 9 (nove) brilharam com letras do famoso Poeta do Penedo, que aqui as assinava solenemente como Jorge Gomes.

... e cantaram, em coro, essas melodias!
Nessa altura, o grupo chegou a ter cerca de 40 crianças, entre os 7 e os 14 anos… hoje adultos, e muitos já pais e mães.

Infelizmente, desse trabalho que eu presumo brilhante, não existem senão gravações áudio, o que torna impossível, pelo menos com os (des)conhecimentos informáticos que eu possuo, a sua reprodução aqui.

Contudo, o Poeta do Penedo / Jorge Gomes, sugeriu-me uma forma de ultrapassar este problema, que eu imediatamente aceitei:
Assim, fui ao you tube e procurei a música “Una Paloma Blanca”, de George Baker Selection, dos anos 70 (essa que segue em baixo); depois, aqui adicionei também a letra, essa sim da autoria de Jorge Gomes, com o título “Pelo Céu da Fantasia”, que a esta música foi adaptada…

Ora, agora é só fazer como o nosso Poeta sugere: Tirar dali o baterista, e colocar lá Jorge Gomes, fazendo um trabalho mais enriquecido do que aquele; depois, entoar a letra que lhe segue, da autoria do próprio, e imaginar 30 crianças a cantá-la com verdadeiro entusiasmo!

Não é a mesma coisa, mas dá para imaginar!!!!

Delicie-se!!!!

PELO CÉU DA FANTASIA

Fui fazer uma viagem
Por um mundo que é só meu
E levei como bagagem
A vida que Deus me deu.
Escolhi como companhia
O pequeno Peter Pan
Pelo céu da fantasia
Tive estrelas como irmãs

REFRÃO
……………………………………………
São histórias de encantar
De um livro universal
Com elas fui voar
Pelo espaço sideral
E o Peter Pan comigo a falar
………………………………………………
Passeei por um jardim
De sorrisos e alegrias
Encontrei Madame Min
A fazer as bruxarias
Acenei ao tio Patinhas
Ao Pateta e à Sininho
Dei um abraço ao Peninha
E brinquei com o Francisquinho

REFRÃO
…………………………………………………
São histórias de encantar
De um livro universal
Com elas fui voar pelo espaço sideral
E o Peter Pan comigo a falar
…………………………………………………….
Disse adeus ás personagens
De uma vida que é tão bela
Encerrada nas imagens
Do autor da Cinderela
Este livro já acabou
Já retornei da viagem
Mas uma coisa ficou
Foi magia na bagagem
REFRÃO
…………………………………………………..
Bonecos eles são
De uma história p’ra contar
P’ra sempre viverão
Num mundo de encantar
E até ficarão comigo a falar

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Novo anúncio sobre bullying

Veja o anúncio. Retrata bem a realidade do bullying - o desconhecimento, a negação, a incapacidade de pais e educadores perceberem o que se passa.

Os Sinais não chegam. Falar é a melhor forma de te defenderes.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Analfabeto Político - Bertolt Brecht


"O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguer, dos sapatos e dos remédios
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, burlão, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

Nada é impossível de Mudar
"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar."

Privatizado
"Privatizaram a sua vida, o seu trabalho, a sua hora de amar e o seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, o seu pão e o seu salário.
E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."

terça-feira, 14 de setembro de 2010

MADREDEUS - Haja o Que Houver (video oficial)

(para mudar o registo!)


Soubemos que vinham ao Porto!
Logo, logo a Rita (era sempre a Rita a das novidades!) perguntou-nos se queríamos ir vê-los.
Não conhecia!
Ninguém conhecia…
Tratamos de comprar um CD – todas contribuímos (pois!)naquela altura vivíamos com moderação!
Fiquei logo apaixonada pelas melodias… ficamos todas.
Ouvimos, ensaiámos… e ficamos prontas para assistir ao espectáculo…
Fomos. Para as frisas, claro, os bilhetes eram mais baratos. Mas fomos.

Que saudades do tempo em que não perdia um concerto no Coliseu ou no Rivoli… ou em Ermal, ou em Paredes de Coura, ou em Alvalade… ou mais nem sei aonde…
Que prazer me dava, no fim (sendo no Porto), descer à Ribeira para acabar a noite. Dançar no extinto “Meia Cave”, até que o sono me consumisse. Voltar para casa de alma cheia…


… Que saudades, Rita, que eu tenho tuas! Estarás sempre por aqui...

domingo, 12 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"E tu? De que és inocente?" - JN


Não podia deixar de partilhar este pequeno artigo de Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, que manifesta de uma forma fantástica, aquilo que eu penso sobre o assunto.

... e mais não é preciso dizer...

"E tu? De que és inocente?" - JN



"Os seis condenados da Casa Pia vêm engrossar a chorosa lista de inocentes de que, como se sabe, estão cheios tribunais e cadeias de todo o Mundo.

Até ver, e dependendo do resto do processo, a principal diferença entre os inocentes da Casa Pia e alguns dos outros inocentes (assassinos, violadores, assaltantes) é que estes não aparecem nas TVs a fazer queixa dos juízes aos Ex. mos Srs. Telespectadores nem a sua condenação (por crimes que, obviamente, nenhum deles cometeu) faz "aterrar" sobre a Justiça o apocalíptico Reino das Trevas (ou, ainda pior, das "Trêvas").

Como os demais "inocentes", os da Casa Pia irão "até ao fim" do Universo, da Física e da Metafísica para obter a condenação dos juízes que os condenaram e, se não for pedir muito, das vítimas que lhes "fizeram mal".

Ora quis o acaso objectivo que, no mesmo dia da sentença da Casa Pia, passasse na RTP um filme em que, a certa altura, John Turturro é metido na cela onde está Schwarzenegger e faz as apresentações perguntando imediatamente: "E tu? Estás aqui inocente de quê?".

"Maravilhosos acasos, aqueles que agem com precisão", diz Bresson."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Ponte de Lima - na rota das (minhas) férias!




Ontem o passeio foi até Ponte de Lima.






O Festival de Jardins é imperdível... o rio estava maravilhoso... e o chrafariz, nem se fala!



O tema deste ano - "O Kaos no Jardim."


Só visto. Aconselho vivamente.


... pena é não se poder tomar banho no chafariz...



Agora estou de rumo à Figueira da Foz e só volto dia 15.



Boas férias para todos!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Areia, mar (e se possível sol) = Praia!



Hoje fomos para a praia.
Estava vento, mas soube-me tão bem…

Isto das férias é uma coisinha mesmo boa!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

Desacertos de comunicação

Hoje, no bar da entrada do Hospital de S. João:


Eu (olhando para o único tipo de empadas que lá havia) – Por favor, as empadas são de quê?

Funcionária – De vitela.

Eu – Então queria uma empada…

Funcionária – De quê? De vitela?

Eu – Porquê, tem outras?

Funcionária – Não. Só de vitela.

Eu – Pronto, é uma dessas que eu quero… e uma meia de leite directa mas morna.

Funcionária – Quer a meia de leite clarinha?

Eu – Não. Quero bem escura, mas morna.

Funcionária – Quer que lhe aqueça a empada?

Eu – Já agora, se fizer o favor.


Esperei. Passado algum tempo, a menina apresenta-me o pedido em cima do balcão: uma empada fria e uma meia de leite claríssima e muito quente.



Arre! Às vezes a vida é difícil!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quero féeeerias!!!!


Está um calor de morrer… e eu aqui… a trabalhar…
Desejo desesperadamente férias… Umas férias merecidas que teimosamente não principiam…
Parecia-me que quando as minhas raparigas ficassem de férias da escola, tudo acalmaria. Bem me enganei! A lufa continua sem cessar: Pois é o trabalho, os livros, a escrita, a televisão, o Centro de Estudos, o Karaté, as festas, os escuteiros, as reuniões, os espectáculos, os passeios, os jantares, as visitas… e não há tempo para tudo!
São tantas as solicitações, tantos os afazeres, que acabo por não conseguir dar resposta a tudo. Deixo para trás prazeres prescindíveis que não queria conceder…



Anseio encontrar uma praia silenciosa, onde as ondas do mar possam desmaiar serenamente na areia… onde o vento sussurre, sem preocupações.

Queria poder não pensar… e não andar… e ter os meus pés mergulhados na água do mar… e ensombrar-me num guarda-sol qualquer, no meio do nada, mas perto de tudo.

Gostaria de ter tempo para fazer o que mais me apetece, e deixar de lado as indispensabilidades…

Preciso de férias!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Protopoema - José Saramago


Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os
dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os
barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que
vagarosamente deslizam sobre a película luminosa
dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas
águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e
firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo
acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu
corpo despido brilha debaixo do sol, entre o
esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas
da memória e o vulto subitamente anunciado do
futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar
calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que
as aves digam nos ramos por que são altos os
choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem,
sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas
verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra
viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se
juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.

(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)

terça-feira, 22 de junho de 2010

CÓDIGO DE ÉTICA DOS ÍNDIOS NORTE-AMERICANOS

pintor mexicano Alfredo Rodri­guez
*1. Levante-se com o Sol para orar. Ore sozinho. Ore com frequência.
O Grande Espírito o escutará se você, ao menos, falar.
*2. Seja tolerante com aqueles que estão perdidos no caminho. A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e a avareza, originam-se de uma alma perdida.
Ore para que eles encontrem o caminho do Grande Espírito.
*3. Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você.
*4. Trate os convidados em seu lar com muita consideração. Sirva-os o melhor alimento, a melhor cama e trate-os com respeito e honra.
*5. Não tome o que não é seu. Seja de uma pessoa, da comunidade, da natureza, ou da cultura. Se não foi ganho nem foi dado, não é seu.
*6. Respeite todas as coisas que foram colocadas sobre a Terra. Sejam elas pessoas, plantas ou animais.
*7. Respeite os pensamentos, desejos e palavras das pessoas. Nunca interrompa os outros nem ridicularize, nem rudemente os imite. Permita a cada pessoa o direito da expressão pessoal.
*8. Nunca fale dos outros de uma maneira má. A energia negativa que você colocar para fora no universo, voltará multiplicada para si.
*9. Todas as pessoas cometem erros. E todos os erros podem ser perdoados.
*10. Pensamentos maus causam doenças da mente, do corpo e do espírito. Pratique o optimismo.
*11. A natureza não é para nós, ela é uma parte de nós. Toda a natureza faz parte da nossa família Terrena.
*12. As crianças são as sementes do nosso futuro. Plante amor nos seus corações e regue com sabedoria e lições da vida. Quando forem crescidos, dê-lhes espaço para que cresçam.
*13. Evite magoar os corações das pessoas. O veneno da dor causada a outros, retornará a si.
*14. Seja sincero e verdadeiro em todas as situações. A honestidade é o grande teste para a nossa herança do universo.
*15. Mantenha-se equilibrado. Seu Psíquico, seu Espiritual, seu Emocional, e seu Físico, todos necessitam ser fortes, puros e saudáveis.
Trabalhe o seu Físico para fortalecer o seu Psíquico.
Enriqueça o seu Espiritual para curar o seu Emocional.
*16. Tome decisões conscientes de como você será e como reagirá. Seja responsável por suas próprias acções.
*17. Respeite a privacidade e o espaço pessoal dos outros. Não toque as propriedades pessoais de outras pessoas, especialmente objectos religiosos e sagrados. Isto é proibido.
*18. Comece sendo verdadeiro consigo mesmo. Se você não puder nutrir e ajudar a si mesmo, você não poderá nutrir e ajudar os outros.
*19. Respeite outras crenças religiosas. Não force suas crenças sobre os outros.
*20. Compartilhe sua boa fortuna com os outros. Participe com caridade.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Mia Couto - Hoje em Famalicão

Hoje, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, não perca esta conversa sobre os seus livros e a sua escrita.
Espero não ser eu a faltar...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Igualdade!


(clique para ampliar)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

In claris non fit interpretatio!

Na entrada do meu escritório existe um letreiro que diz:


ESTE ESCRITÓRIO VIVE DOS SERVIÇOS PRESTADOS A FAMILIARES E AMIGOS.

PORTANTO, NÃO SE ESQUEÇA DE PEDIR A CONTA
.



Ora, não sei porquê, quem lá entra lê o dito, e até acha muita gracinha, apoia a ideia, mas ninguém considera que a si se aplica .
– É para os outros, de certeza! – Discorre o cliente.

Assim pensa o familiar, o familiar do familiar, o amigo, o familiar do amigo, o amigo do familiar, o amigo do amigo… e até o conhecido...


Ora bolas! O letreiro diz expressamente: AMIGOS!!!!! FAMILIARES!!!! (qual foi a parte que não entenderam????)… É lógico que este “recadinho” se aplica a TODA A GENTE!

As pessoas esquecem-se (ou querem esquecer-se) que esta é a minha PROFISSÃO (- profissão implica retribuição!).

...E depois, quem fica constrangida sou eu!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Bilhete de Identidade - Mahmud Darwish

Escreve!
Sou árabe
e o meu bilhete de identidade é o cinquenta mil;
tenho oito filhos
e o nono chegará no final do Verão.
Vais zangar-te?

Escreve!
Sou árabe.
Trabalho na pedreira
com os meus companheiros de infortúnio.
Arranco das rochas o pão,
as roupas e os livros
para os meus oito filhos.
Não mendigo caridade à tua porta,
nem me humilho nas tuas antecâmaras.
Vais zangar-te?

Escreve!
Sou árabe.
Sou um homem sem título.
Espero, paciente, num país
em que tudo o que há existe em raiva.
As minhas raízes,
foram enterradas antes do início dos tempos
antes da abertura das eras,
antes dos pinheiros e das oliveiras,
antes que tivesse nascido a erva.

O meu pai descende do arado,
e não de senhores poderosos.
O meu avô foi lavrador,
sem honras nem títulos,
e ensinou-me o orgulho do sol
antes de me ensinar a ler.
A minha casa é uma cabana,
feita de ramos e de canas.
Estás feliz com o meu estatuto?
Tenho um nome, não tenho título.

Escreve!
Sou árabe.
Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com os meus filhos;
não me deixaste nada,
apenas estas rochas;
O governo vai tirar-me as rochas,
como me disseram?

Escreve, então,
no cimo da primeira página:
a ninguém odeio, a ninguém roubo.
Mas, se tiver fome,
devorarei a carne do usurpador.
Tem cuidado!
Cuidado com a minha fome,
Cuidado com a minha ira!







(Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza!)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Exemplo solidário


Numa escola qualquer, algures no universo, algumas turmas programaram e realizaram uma visita de estudo de final de ano.
Essa viagem, porque era a uma povoação distante e compreendia a visita a vários locais de interesse, acabou por ficar um tanto ao quanto dispendiosa e todos os alunos tiveram que pagar uma quantia um pouco elevada.
Aconteceu que um dos alunos de uma das salas informou o seu professor que não iria participar no passeio pois não podia pagar o que lhe era devido.
Com um pequeno gesto, o professor dessa turma imprimiu aos seus alunos, mais uma vez, o sentimento de SOLIDARIEDADE:
Primeiro perguntou-lhes se gostariam que aquele colega os acompanhasse na excursão – Todos responderam que sim;
Depois perguntou-lhes se estariam dispostos a ajudá-lo financeiramente – Todos responderam que sim.
Disse-lhes então que deveriam conversar com os pais sobre esse assunto e, caso assim eles entendessem, deveriam levar para a escola a sua contribuição – o que quisessem e pudessem, nunca excedendo os € 0,50 por aluno. Disse-lhes, ainda, para não se preocuparem, porque se o dinheiro recolhido não chegasse (que não chegaria, pela certa), poria ele o restante, pois estava ali para os auxiliar sempre que tivessem problemas, fossem eles monetários ou não.

Pois bem, esse aluno foi ao passeio muito bem-disposto e ninguém, nem o próprio, teve a sensação da desigualdade, pelo contrário - foi-lhes transmitida a ideia de que aquele colega era um amigo que tinha uma dificuldade que poderia ser ultrapassada se todos colaborassem. O aluno em questão sentiu-se bem integrado na turma, pois percebeu que todos gostavam dele e da sua companhia.

Belo gesto, não?

terça-feira, 25 de maio de 2010

CARTA DE UM ANGOLANO NO ESTRANGEIRO



Partimos para a pedreira
Bem sabes que não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos,
Partimos para novamente sermos os contratados
E os explorados
Para sermos os sem eira nem beira

Mão de obra barata, partimos
Para construirmos e edificarmos
Com a força dos nossos braços vigorosos
E dos nossos peitos musculosos
Os prédios, as estradas, as pontes...
Em terras alheias, terras distantes

Partimos
Bem sabes que não é isto que queríamos
Tu que sonhaste com doutores e engenheiros
Agora tens-nos carpinteiros e pedreiros
A desenvolver países estrangeiros
Países dos outros

Partimos para sermos espancados
E levarmos bofetadas
Dos cabeças-rapadas
Partimos para sermos desdenhados
E chamados com desprezo, pretos!
Nestes lugares longínquos, lugares incertos

Partimos, mas não queríamos partir
Lá no Menongue queríamos construir
Os hospitais, as escolas, as pontes...
Lá queríamos erguer um arranha-céus
Para então gargalharmos desafiantes
Os brancos europeus
(Mas lá no Menongue, não aqui em Portugal
Que isto nos faz sentir mal)

Partimos
Bem sabes que nos forçaram a partir
Fugimos
Bem sabes que nos forçaram a fugir
Mas não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos

O que nós queríamos
O que nós desejávamos
É construir uma ponte
E uma auto-estrada gigante
Que unisse os corações dos angolanos,
É isto que desejamos todos estes anos

Partimos
Mas bem sabes mãe, não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos!

Décio Bettencourt Mateus - Escritor Angolano -in "A Fúria do Mar"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A entrevista do primeiro-ministro!


A entrevista do primeiro-ministro ontem:
- Blá, blá, blá, aumento de impostos; Blá, blá, blá, diminuição dos salários; Blá, blá, blá, asfixia até 2013; Blá, blá, blá, não peço desculpas…

Ora aí está, de todas as informações importantíssimas que o nosso primeiro veio ontem dar ao país, eu retive apenas uma: Se já estamos sem ar, até 2013 vamos de certeza morrer asfixiados.


Eu quero lá saber se ele pede, ou não pede desculpa ao país (na verdade, nem sei qual dos dois comparsas é o mais ridículo: se o que pede desculpas, mas aprova as medidas, se o que as aprova, e não pede desculpas). Com ou sem desculpas, são ambos responsáveis pelo aumento dos impostos, pela diminuição dos salários e pelo aumento do custo de vida. Ainda por cima, dizem os dois que estão a cumprir o seu dever.

Se podiam fazer de outra maneira?
Podiam, mas não era a mesma coisa!
Quantos interesses teriam que abalar! Quantos incómodos teriam que ter! Quantos inimigos poderosos haveriam de aborrecer!
… E era uma chatice.

Quem paga a crise, quem paga? Sempre os mesmos!

Depois, ainda teve lata de falar em “esforço colectivo de todos” e em “discriminação positiva em relação aos portugueses com salários mais baixos” – Quão diferente é perder cem em mil, ou mil num milhão!



Enquanto isso… a Assembleia da República gasta mais de 100 mil euros para apetrechar os gabinetes dos parlamentares com um terceiro terminal informático.
É o país em que vivemos!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu. (Bíblia)



(imagem retirada da net)


A visita do Papa escandaliza-me! Escandaliza-me e chateia-me.
Eu percebo que a maior parte dos portugueses sejam católicos. Concebo que grande parte da população fique entusiasmada por acolher o seu chefe religioso. Também entendo que o Vaticano seja um Estado e o papa um Chefe de Estado. Até compreendo que Portugal queira ser hospitaleiro e se preocupe em receber bem este chefe religioso/de Estado… Percebo tudo isso, mas, diabo(!), não concebo (acho absolutamente abusivo) todos os exageros cometidos à volta da visita do papa a Portugal.
Numa altura em que o país se debate com uma das maiores crises económicas dos últimos anos; num período em que todos os dias nos pedem para sermos pacientes porque, a coberto da tal recessão, somos forçados que fazer sacrifícios que vão para além das nossas forças; numa época em que, a toda a hora, são implementadas medidas de austeridade; num tempo em que as empresas fecham sucessivamente as suas portas, o rendimento real / disponível das famílias diminui drasticamente, o número de desempregados aumenta de forma vertiginosa e o seu subsídio se escapule, o reemprego é coisa mirífica e a reforma cada vez mais distante e diminuta; numa era em que cada vez menos famílias têm o que pôr na mesa do jantar…

… Esbanja-se, sem pudor, 37 milhões de euros diários, na visita do papa a Portugal; dá-se tolerância de ponto aos funcionários públicos, fechando-se hospitais (com consultas e cirurgias desmarcadas) e escolas, tribunais e conservatórias, serviços de finanças e de segurança social…; monta-se a maior força de segurança de sempre em meios materiais e humanos envolvidos; encomenda-se, à “vista alegre”, um serviço de porcelana bordado a tinta de ouro para a viagem de regresso do papa; usa-se um microfone revestido a ouro; confeccionam-se vestes litúrgicas do mais fino pano e com os seus bordados a ouro, para engalanar bispos, padres e diáconos; vão buscar-se as flores à Madeira para enfeitar os diversos altares…
E tudo isto para quê?
Bem, segundo os mais devotos, entre eles o nosso Presidente da República, a visita do Papa a Portugal serve para nos transmitir esperança, confiança, e estímulo para o futuro.
Pois bem, mas como de não é com esperança que se enchem as barrigas…
Amanhã, quando todos acordarmos deste inebriante sonho, lá teremos que fazer contas à vida, e iremos perceber que, mesmo depois de todas as orações, o IVA aumentou, os bens de consumo encareceram, os rendimentos diminuíram, as empresas continuaram a encerrar, o desemprego cresceu… enfim, que estamos todos mais pobres!
Ao que parece, para além do indecoroso desperdício, o impacto na economia foi /está a ser reduzido – nem no sector hoteleiro se verificam grandes subidas.
** Recentemente foram acrescentados à lista dos “Pecados Mortais” mais alguns, os quais foram definidos pelo papa. Hoje, a Igreja católica considera pecado mortal a desigualdade social, isto é, a pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros.
E mais não digo, cada um ajuíza como quiser!


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esse Desemprego! - Bertold Brecht


Meus senhores, é mesmo um problema
Esse desemprego!
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão.
Quando queiram os senhores! A todo momento!
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve desaparecer.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

25 de Abril, Sempre!


Não me esqueci, nem podia, deste grande dia que é o 25 de Abril.
Nem deixei passar em branco.
No entanto, desta vez resolvi, porque tive o amável convite do dedo político para o fazer, usurpar o seu blogue e escrever lá o meu texto.
Se quiserem dar uma olhadela, está aqui.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os 40 anos do Dia da Terra!


Já todos ouvimos falar dos problemas que o nosso modo de vida tem vindo a causar ao meio ambiente no planeta. Todos sabemos que o ar, a água e os solos estão contaminados. Todos somos sabedores da destruição de ecossistemas, da centenas de milhares de plantas e espécies animais que foram dizimadas. Todos conhecemos a limitação dos recursos não renováveis e o seu esgotamento. Todos sabemos isso tudo…

Não é novidade para ninguém que a capacidade da Terra de renovar seus próprios recursos e de absorver resíduos já se encontra comprometida por um padrão de produção e consumo insustentável e injusto.

E não é notícia o facto de menos de 20% da população deter 80% dos recursos naturais do globo, relegando a imensa maioria a uma situação de incontestável pobreza.

Sim, todos sabemos… mas daí a implementar práticas ambientais no nosso dia-a-dia… vai uma grande distância!

Muito se fala em Redução, Reutilização e Reciclagem… Mas estaremos verdadeiramente dispostos a reduzir, reutilizar e reciclar?

É verdade que a responsabilidade cabe a todos nós, cidadãos, que teimamos em não alterar os nossos hábitos, que continuamos a reger a nossa vida pelo comodismo desmedido.

No entanto, pese embora as diversas iniciativas que possamos ter individualmente, elas não serão suficientes sem o apoio e a determinação do Estado.

Entendo que, em rigor, a imputação da culpa cabe, em primeira mão, aos nossos governantes e que o problema maior do meio ambiente passa pela falta de vontade política.

Senão digam-me:

Onde estão as políticas integradas de acessibilidade e transportes, que investem na quantidade e qualidade do transporte público?

Onde estão as políticas que obrigam à construção de “edifícios verdes”, sejam eles industriais, de habitação ou de serviços, que optimizem o consumo energético proporcionando mais conforto?

Onde estão as políticas que promovem a reabilitação de fogos e edifícios devolutos nos centros das cidades e travam, com vigor, a construção desenfreada e de baixa qualidade?

Onde estão as políticas que impõem a reutilização dos recursos hídricos, des. a reutilização da água da chuva para as regas, reutilização de águas residuais em limpezas de vias públicas, ou a simples utilização da água dos banhos para as descargas sanitárias?

Onde estão as políticas que firmemente impõem regras de melhor produzir e que punem, com mão pesada, os prevaricadores?
Onde estão as políticas que exigem, em todos os sectores económicos, a substituição dos recursos não renováveis pelos renováveis?

Onde está a verdadeira política ambiental dos Estados?

Pois bem, de conversa já estamos todos fartos. É tempo e mais que tempo de começar a agir com vontade.

Faça uma viajem virtual pelo nosso planeta e veja o filme “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa”, inteiramente filmado do céu, aqui

domingo, 18 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Lágrima de preta - António Gedeão



Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Democracia a baixo custo!



Outro dia, em conversa, alguém, zangado com o seu próprio partido, desabafava:
- Para que querem eles tantos deputados? Se é para dizerem todos o mesmo, basta só um!

Tratei logo de aproveitar a ideia e desenvolvê-la como se fosse minha:
- É isso mesmo! Para que queremos nós 230 deputados se podemos ter apenas 6 (um por cada um dos partidos representados na Assembleia)? Para funcionar sem problemas, os elementos dos partidos que quisessem, reuniriam antecipadamente e acertavam uma orientação de voto. No hemiciclo, o seu deputado exerceria esse direito de acordo com o que fosse decidido pelos seus pares. Aliás, é assim que fazem sempre, só que estão lá todos para levantar a mão na hora da votação.

- Põe-te a dizer isso, põe, depois acusam-te de reaccionária – Dizia o meu interlocutor.

- Reaccionária qual quê? – Repliquei – É uma ideia bem democrática. Não estou a dizer que cada um só teria direito a um voto. Não! Seria como nos condomínios: Cada condómino tem tantos votos quanto o total de unidades inteiras da percentagem ou permilagem de todas as fracções que possui. Aqui funcionaria exactamente da mesma maneira: No Parlamento a cada deputado, de cada um dos partidos, caber-lhe-ia um número de votos equivalente ao número de deputados que actualmente fazem parte do seu grupo parlamentar. Continuaria a usar-se o método de Hondt, não para achar o número de deputados do partido, mas para achar o número de votos do deputado desse partido. A representatividade ficava assegurada...

...Assim, por exemplo, na legislatura actual, o deputado do PS teria direito a 97 votos, o do PSD a 81, e assim por diante…

...Quando se procedesse às votações, era tudo muito mais simples e rápido e ficava muito mais barato à Nação… com o mesmo efeito.

- Diz isso muito alto, que vais ver tudo a cair-te em cima – continuava o verdadeiro (mas arrependido) mentor da ideia – Achas que alguém abriria mão dos seus lugares?

Sem perder o entusiasmo retorqui:
- Que assim não fosse! Para que isso não acontecesse, elevaríamos ao máximo o princípio da rotatividade. Ou seja, no Parlamento continuaria a ter assento apenas um deputado, mas todos os elementos das listas teriam o direito de tomar o seu lugar. Não o podiam fazer todos ao mesmo tempo, mas rodariam conforme as suas conveniências… A única coisa que mudava eram os ordenados – seria paga uma determinada quantia por sessão, à semelhança do que acontece com os deputados municipais… Acabariam as reformas e as ajudas de custo exageradas e todas as outras imoralidades…
...Quer uma ideia mais democrática do que esta?

- Pois é, mas às vezes os deputados do mesmo partido têm opiniões diferentes e votam de forma diferente… - Dizia ele.

- Está bem. Nesse caso, na hora da votação, esse deputado informaria quantos vezes votaria contra, quantas a favor e quantas vezes se abstinha. Aí funcionariam mais dois princípios fundamentais da democracia: A lealdade e a confiança. – Continuava eu.



Pronto, pronto, está bem, é uma ideia estapafúrdia… “Vou mas é calar-me para casa!” (como dizia a Mafaldinha), antes que seja saneada!!!

terça-feira, 13 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Liberdade


— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'

quarta-feira, 31 de março de 2010

A Carta do Índio Chefe Seattle, "Manifesto da Terra-Mãe"

Foi em 1854 que o chefe Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, depois de o Governo norte-americano ter proposto a compra do território ocupado por aqueles índios, respondeu ao presidente dos Estados Unidos endereçando-lhe a
missiva que se segue.
A mesma foi divulgada pela UNESCO em 1976, quando das comemorações do Dia Mundial do Ambiente.


Eis o texto da carta:

"Como podeis comprar ou vender o céu, o calor da terra? A ideia não tem sentido para nós.
Se não somos donos da frescura do ar ou o brilho das águas, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, cada grão de areia nas praias, a neblina nos bosques sombrios, cada monte e até o zumbido do insecto, tudo é sagrado na memória e no passado do meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a terra onde nasceram, quando empreendem as suas viagens entre as estrelas; ao contrário os nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os veados, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o grande chefe em Washington envia a mensagem manifestando o desejo de comprar as nossas terras, está a pedir demasiado de nós. O grande Chefe manda dizer ainda que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente uns com os outros. Ele será então nosso pai e nós seremos seus filhos. Se assim é, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Isto não é fácil, já que esta terra é sagrada para nós.
A límpida água que corre nos ribeiros e nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, recordar-se-á e lembrará aos vossos filhos que ela é sagrada, e que cada reflexo nas claras aguas evoca eventos e fases da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos, e saciam a nossa sede. Levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se lhes vendermos a terra, deveis lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos, e também o são deles, e deveis a partir de então dispensar aos rios o mesmo tratamento e afecto que dispensais a um irmão.
Nós sabemos que o homem branco não entende o nosso modo de ser. Ele não sabe distinguir um pedaço de terra de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois de vencida e conquistada, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que se compram, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. O seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. E isso eu não compreendo.
O nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer os olhos do homem vermelho.
Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreende...
Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o desabrochar das folhas na primavera, o zunir das asas de um insecto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
O vosso ruído insulta os nossos ouvidos. Que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs nas margens dos charcos e ribeiros ao cair da noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio dia e aromatizada pelo perfume dos pinhais.
O ar é inestimável para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis recordar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O vento que deu aos nossos avós o primeiro sopro de vida é o mesmo que lhes recebe o último suspiro.
Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir saborear a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
Por tudo isto consideraremos a vossa proposta de comprar nossa terra.
Se nos decidirmos a aceitá-la, eu porei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo de vida. Tenho visto milhares de bisontes apodrecendo nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco de um comboio em andamento.
Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o bisonte, que nós caçamos apenas para sobreviver.
Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morrerá de solidão espiritual. Porque o que suceder aos animais afectará os homens. Tudo está ligado.
Deveis ensinar a vossos filhos que o solo que pisam são as cinzas de nossos avós.
Para que eles respeitem a terra, ensina-lhes que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, cospe sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos a certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra.
O homem não tece a teia da vida: é antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
Nem mesmo o homem branco, cujo Deus passeia e fala com ele como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Por fim talvez, e apesar de tudo, sejamos irmãos.
Uma coisa sabemos, e que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus.
Hoje pensais que Ele é só vosso, tal como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho.
Esta terra tem um valor inestimável para Ele, e ofender a terra é insultar o seu Criador. Também os brancos acabarão um dia talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai os vossos rios e uma noite morrerão afogados nos vossos resíduos.
Contudo, caminhareis para a vossa destruição, iluminados pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum desígnio especial vos deu o domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último bisonte for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu.
Termina a vida começa a sobrevivência."

segunda-feira, 29 de março de 2010

Parabéns Alex Ryu Jitsu


Já chegamos do campeonato do mundo de kempo chinês, que decorreu em Torres Novas entre os dias 25 e 28 deste mês. Foi cansativo, mas correu bem, muito bem. Alex Ryu Jitsu, a arte marcial que praticamos, arrecadou cerca de 40 medalhas de ouro, 30 de prata e15 de bronze.
As minhas filhas, claro, trouxeram as suas… A Gabriela conseguiu, com muito mérito, uma medalha de ouro; a Bárbara veio com a de bronze. Foi injusto, extremamente injusto, ela bem merecia o primeiro lugar, mas isso já são águas passadas e histórias superadas.
Elas são o meu orgulho... são umas atletas excelentes, são umas vencedoras!

Pelo seu desempenho, todos os atletas Alex Ryu Jitsu estão de parabéns e aqui quero deixar a minha homenagem.
É gratificante saber que Mestres Internacionais e Nacionais elogiaram o nosso estilo e congratularam os nossos atletas e associação.

domingo, 21 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Educação - o problema da violência

A ministra da Educação, Isabel Alçada, afirmou que vai ser aprovado um diploma para reforçar a rapidez na intervenção do director em caso de agressão, podendo os alunos agressores ser suspensos imediatamente logo após a ocorrência da agressão. aqui

Naturalmente, louvo esta medida.
Repor a autoridade de professores de demais agentes educativos, será, sem dúvida, o primeiro passo para solucionar este dramático problema.
No entanto, parece-me que, a par desta, deveriam ser primordialmente valorizadas medidas de prevenção do bullying, da agressão.
Nas escolas ainda graça a falta de conhecimento das características deste fenómeno. Desconhece-se como ele se manifesta e como se desenvolve.
Assim, entendo dever-se apostar cada vez mais na formação – de professores, educadores, funcionários das escolas, e também pais – sobre a forma de actuar em casos de violência (física ou verbal) perpetrada por crianças e adolescentes.
Na mesma esteira, deve ser estreitada a supervisão dos espaços escolares, designadamente dos recreios, por funcionários preparados, para pôr cobro a qualquer situação desta natureza.
Dinamizar os recreios, com jogos colectivos, que tenham em vista o apertar das relações do grupo, poderá ser uma forma interessante e despreocupada de orientar os alunos para a solidariedade e partilha.
As associações de pais, interventivas, para além de vincarem as ligações, tantas vezes inexistentes, entre escola e família, devem servir como pólo fiscalizador e detector destes comportamentos.
É fundamental que nas escolas, ou com ligação a ela, existam estruturas de apoio psicológico especializadas, direccionados aos alunos, quer às vítimas, quer aos agressores. As questões emocionais devem ser tratadas com toda a sabedoria: Da banda da vítima trabalhando a forma de repor os níveis de auto-estima e de defesa; no caso dos agressores, ensinando-lhes competências sociais, de partilha, de cidadania.

VÃO-SE EMBORA - Mahmud Darwish



Passageiros entre palavras fugazes:
carreguem os vossos nomes e vão-se embora,
Cancelem as vossas horas do nosso tempo e vão-se embora,
Levem o que quiserem do azul do mar
E da areia da memória,
Tirem todas as fotos que vos apetecer para saberem
O que nunca saberão:
Como as pedras da nossa terra
Constroem o tecto do céu.

Passageiros entre palavras fugazes:
Vocês têm espadas, nós o sangue,
Têm o aço e o fogo, nós a carne,
Têm outro tanque, nós as pedras,
Têm gases lacrimogéneos, nós a chuva,
Mas o céu e o ar
São os mesmos para todos.
Levem uma porção do nosso sangue e vão-se embora,
Entrem na festa, jantem e dancem…
Depois vão-se embora
Para nós cuidarmos das rosas dos mártires
E vivermos como queremos.

Passageiros entre palavras fugazes:
Como poeira amarga, passem por onde quiserem, mas
Não passem entre nós como insectos voadores
Porque temos guardada a colheita da nossa terra.
Temos trigo que semeámos e regámos com o orvalho dos nossos corpos
E temos aqui o que não vos agrada:
Pedras e pudor.
Se quiserem, levem o passado ao mercado de antiguidades
E devolvam o esqueleto à poupa
Numa travessa de porcelana.
Temos o que não vos agrada: o futuro
E o que semeamos na nossa terra.

Passageiros entre palavras fugazes:
Amontoem as vossas fantasias numa sepultura abandonada e vão-se embora,
Devolvam os ponteiros do tempo à lei do bezerro de ouro
Ou ao horário musical do revólver
Porque aqui temos o que não vos agrada. Vão-se embora.
E temos o que não vos pertence:
Uma pátria e um povo exangue,
Um país útil para o olvido e para a memória.

Passageiros entre palavras fugazes:
É hora de vocês se irem embora.
Fiquem onde quiserem, mas não entre nós.
É hora de se irem embora
Para morrerem onde quiserem, mas não entre nós
Porque nós temos trabalho na nossa terra
E aqui temos o passado,
A voz inicial da vida,
E temos o presente e o futuro,
Aqui temos esta vida e a outra.
Vão-se embora da nossa terra,
Da nossa terra, do nosso mar,
Do nosso trigo, do nosso sal, das nossas feridas,
De tudo… vão-se embora
Das recordações da memória,
Passageiros entre palavras fugazes.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Escravatura do Mundo Actual


Hoje dei boleia a uma mãe que tem a sua filha no mesmo infantário que o meu filho.
Aproveitou ela para me expor um caso laboral do seu marido, e aferir da sua legalidade.
Contou-me, então, que enquanto o seu marido, único "empregado" de uma certa serralharia, trabalhava, uma determinada máquina se avariou. Asseverou-me que ele a estava a utilizar da forma como sempre fez. A máquina simplesmente avariou.
Ora, o “patrão” resolveu o assunto da forma mais fácil – mais fácil e mais desonesta: Atribuiu, a seu bel prazer, um preço à máquina (mil e tal euros), e pôs o “empregado” a pagá-la.
Não lhe desconta no ordenado, é certo, mas obriga-o a trabalhar horas extraordinárias, não retribuídas, até perfazer aquele valor.
Resumindo, o “empregado” tem trabalhado todos os Sábados… a custo zero.
Bela maneira que o “patrão” encontrou para vender aquela velha máquina, sim senhor!
Nesta altura, já lá vão quatrocentos e tal euros de trabalho, que o “patrão” meteu ao bolso à custa do “empregado”.
Diz a senhora que ele é bom no que faz: “Faz um portão do princípio ao fim… e cada portão!” – afiançou-me.

Ouvi o que me disse e respondi-lhe que deveria reclamar.
A senhora objectou-me constrangida: “Como é que ele vai reclamar? Eu estou desempregada, faço umas horas em casas de senhoras. O trabalho é pouco. Temos casa para pagar, uma filha para sustentar… Ainda ontem fui dispensada de uma casa, porque, disse a patroa, estamos em crise…”
Perguntei-lhe porque é que o marido não se lançava sozinho na arte, mas imediatamente me arrependi. Dei-me logo conta que isso não era solução. As máquinas são caras e quem está aflito com as contas, não as pode comprar.
E ainda nos pedem para apertar o cinto…
Eu queria saber, qual cinto?

Casamentos...







terça-feira, 9 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher!


Dizem que a celebração do Dia Internacional da Mulher não faz sentido e que não passa de uma discriminação (positiva) das mulheres.
Dizem que, se queremos ser iguais, nunca deveríamos aceitar este como um dia especial nosso.

Será?

Pois não me parece.

Este dia, para além de recordar todas as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres, ao longo dos tempos, rememora, de igual modo todas as discriminações e as violências a que muitas mulheres ainda estão sujeitas em todo o mundo.
E as mulheres portuguesas não são excepção, embora possamos dizer que, felizmente, estamos em melhores condições do que outras.

Pois que,

Enquanto houver mulheres violentadas, nos seus lares, espezinhadas e humilhadas, LUTEMOS!

Enquanto tivermos salários mais baixos do que os homens para o desempenho das mesmas funções, LUTEMOS!

Enquanto nos for impedido o acesso a funções de chefia, de direcção no mesmo pé de igualdade que aos homens, LUTEMOS!

Enquanto tivermos que ser nós a desdobrarmo-nos entre a profissão, a vida de casa e a escola dos filhos, sem qualquer reconhecimento, LUTEMOS!

Enquanto existir quem considere a inexistência de igualdade de capacidades, LUTEMOS!

Enquanto houver Juizes, nos Tribunais de Família que, para aferirem da existência de vida em comum do casal, tenham coragem de perguntar à mulher se ELA cozinha para ELE, e se ELA lhe lava a roupa, LUTEMOS!

Enquanto nos meios de comunicação social passarem anúncios de produtos de limpeza em que as protagonistas sejam apenas mulheres, LUTEMOS!

Enquanto não sentirmos, verdadeiramente, que existe IGUALDADE… LUTEMOS!

Passados que estão cem anos desde que Clara Zetkin propôs o dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher, na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, continuo a sentir que existe discriminação e que este dia continua a fazer todo o sentido.

Parabéns a TODAS NÓS por todas as conquistas alcançadas e coragem para todas as contendas futuras!

sábado, 6 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Bullying na escola! O drama de quem o vive…

As páginas dos jornais vêm hoje lotadas com o caso trágico ocorrido ontem, em Mirandela, com uma criança de 12 anos, que acabou por se suicidar nas águas do Tua.
Todos fomos conhecedores do caso, e todos ficamos chocados. Eu, pessoalmente, lamento-o profundamente.

Face a um caso desta envergadura, depois de acontecer o pior, ninguém tem dificuldade em identificar a sua gravidade e classificá-lo como bullying. Quanto a isso há consenso.
Todos falamos sobre o bullying, sobre a problemática envolvente, e todos nos admiramos pelo facto de não ser detectado.
Perguntamos: Como é possível ter chegado a este extremo sem ninguém ter dado conta?
Questionamo-nos sobre a incapacidade de pais e educadores agirem atempadamente.
Pois questionamos! É que nós temos uma ideia errada acerca do assunto. Consideramos que bullying é somente a violência NOTÓRIA perpetrada a um colega! Pensamos, mas pensamos mal!
Bullying não é só isso… Aliás, o bullying normalmente não começa assim…
Um agressor não é meramente aquele que espanca sistematicamente alguém. Há os agressores subtis, que quanto a mim poderão ser ainda mais perigosos do que os outros, principalmente porque não dão nas vistas. Paira, ainda, a ideia, entre pais, educadores e população em geral, que bullyin respeita apenas àqueles casos graves de espancamentos repetidos entre pares. Mas isto não é verdade.
Então, afinal, o que é isto do bullying de que tanto se fala?
Pois é, bullying consiste na violência física e/ou psicológica consciente e intencional exercida por um indivíduo ou um grupo sobre outro indivíduo, ou grupo, incapaz de se defender e que, em consequência de tal agressão, fica intimidado, podendo ver afectadas as respectivas segurança, auto-estima e personalidade.

Nesse caso… e assim sendo, a que é que podemos chamar violência?
Saberemos nós verdadeiramente quais são os contornos reais do bullying?
Não, não sabemos. Creio que o conhecimento sobre a matéria é completamente insuficiente.

Alexandre Ventura, do departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro assevera-nos que gozar, chamar nomes, ameaçar, empurrar, humilhar, excluir de brincadeiras e jogos são actos de bullying. E que embora estes sejam actos de todos os dias, que acontecem "desde sempre, desde que há crianças", devem ser atendidos com a mesma preocupação que outros que se nos apresentam mais evidentes. Acrescenta ainda que muitas vezes tais actos são considerados pelos adultos como "saudáveis" e "uma boa forma de aprender a viver e a defender-se", e como tal não se lhes dá relevância. Mas isso não é assim, pois estas atitudes, aparentemente pequenas e insignificantes, podem deixar marcas para toda a vida – podem marcar a personalidade de uma pessoa para sempre ao torná-la débil na capacidade de comunicação, ao torná-la incapaz de se afirmar em termos sociais, profissionais e amorosos. Por isso, é de primordial importância identificá-las e evitá-las.
Acrescenta, ainda, que as vítimas de "bullying" tornam-se muitas vezes pessoas tão frágeis que chegam mesmo a tentar o suicídio.
E o mais grave é que, ainda segundo aquele pedagogo, quando as vítimas procuram denunciar as situações em que vivem, "são mal recebidas, acabando por ser também vítimas de incompreensão".
"Normalmente, as vítimas sofrem em silêncio. Sentem-se ridículas e até culpadas pelo facto de serem vítimas. Os órgãos de gestão, os professores, os auxiliares de acção educativa e os pais têm de assumir as suas responsabilidades, deixarem de aceitar como normal o que é aberrante e injustificado, e agir", concluiu Alexandre Ventura.

***

E se tivermos um filho que é vítima de bullying??? O que fazemos???

Talvez não saibamos tomar as melhores atitudes… pois não… Mas a verdade é que uma lágrima de um filho transforma-se num oceano para um pai!
Conto um caso:
Numa escola de 1º ciclo, uma criança de 8 anos tem sido, quase desde o início deste ano lectivo, excluída pela maior parte dos seus colegas. Brinca apenas com uma ou outra coleguinha que também não recebem a estima dos restantes da turma. E isto não acontece porque ela (ou elas) não queira brincar com os outros colegas, acontece porque os outros não a deixam participar nas suas brincadeiras. Ou melhor, duas colegas começaram por não querer brincar com ela e diziam aos outros para também não o fazer.
O que disseram os pais desta criança massacrada?
Para não ligar, para brincar com outras meninas ou meninos, para tentar entrar no grupo, mas para ter calma porque as coisas podiam não ser fáceis e para estar preparada para as barreiras que pudessem vir a surgir. Para não entrar em conflito com ninguém, para ser amiga dos outros, para ter confiança nela.
Começaram essas duas colegas dar-lhe sapatadas e pontapés, com o aval e a protecção dos outros. Todos frequentemente lhe chamam nomes, ridicularizam as suas roupas ou o que calça (roupas e calçado normalíssimos), inventam histórias, ampliam histórias, criticam a sua maneira de ser, o que faz e o que diz, ameaçam que lhe vão bater. Criticam a sua mãe, por causa das opções políticas (que são públicas, mas não acolhem o agrado da maioria), dizem-lhe (fundamentalmente essas duas) que ela é pobre porque a mãe é de um partido de esquerda e que “por ser pobre é que está na política”.
O que lhe disseram os pais desta criança maltratada?
Que elas não sabem o que dizem, que estão erradas, que a mentalidade delas é tacanha o suficiente para não verem nada à sua frente a não ser um conjunto de factores supérfluos e vazios que não interessam a ninguém, que se pensam assim, coitados! Que ela (a agredida) é bonita (porque é), inteligente (porque é), e que o problema não está nela, mas nas outras. Que não ligasse aos insultos, mas que reagisse sempre que alguém a quisesse agredir fisicamente – que se defendesse, e caso não fosse suficiente, que atacasse também.
O que é que a pequena dizia?
Que não lhes podia fazer nada, porque eles eram muitos e para além de tudo, se reagisse iria ser posta de castigo e não queria, que era pior.
Os pais insistiam, e diziam-lhe que não se preocupasse, que caso ficasse de castigo por causa disso, logo se resolveria, mas que não podia permitir que a maltratassem.
Não reagiu.
Um dia, uma dessas duas, agrediu-a fisicamente e com violência, na zona da cabeça. Nessa altura, a pequena tinha acabado de furar as orelhas e a agressora conseguiu enterrar-lhe o brinco na orelha, que ainda não tinha acabado de cicatrizar. Uma mãe, que se encontrava pela escola, telefonou à mãe da agredida para que viesse imediatamente porque a sua filha estava a sangrar e precisava de auxílio. A mãe pôs-se na escola em menos de nada e foi informada, pelas mães que lá estavam, do que tinha acontecido. A petiza teve que recorrer aos serviços de enfermagem e foi sujeita a alguns tratamentos aí localizados.
O que fez a mãe da criança agredida?
A mãe ficou desesperada, mas entendeu que a melhor via seria a conversa. E foi conversar com a mãe da agressora, apesar das súplicas da filha para não o fazer.
- Por favor, mãe, por favor, ainda vai ser pior! – Dizia ela.
A conversa da mãe da agredida com a mãe da agressora correu bem. A mãe da agressora prometeu que iria repreender a filha, pediu desculpa e condenou a atitude, afirmou que desconhecia o que se estava a passar, que nem percebia o porquê de tudo estar a acontecer e que depois dizia alguma coisa. (Nunca disse)
A mãe da agredida pensou que o assunto, embora delicado, pudesse ter um fim ali.
Mas não terminou!
As situações de exclusão mantiveram-se, as verborreias mantiveram-se, os ataques mantiveram-se.
A preocupação dos pais agravava-se, mas a atitude mantinha-se – Reage, filha, reage! Não te deixes intimidar. Se não querem brincar contigo deixa lá, brinca com outros, vai para a beira da tua irmã, junta-te a fulana ou a sicrana. Tenta ser amiga de todos e tenta entrar no grupo aos poucos, vais ver que consegues. Não penses que o problema é teu, porque não é. Tu tens amigos nos escuteiros, no Karaté, dás-te bem com os teus primos, com outras crianças… não penses que o defeito é teu, não te culpabilizes…
Quando a mãe a ia levar à escola, ficava sempre que podia por lá, tentava dar algum apoio, pelo menos enquanto não chegavam as professoras ou a sua única amiga.
Ao sair da escola, a mãe perguntava-lhe sempre como tinha corrido o dia, e o mais discretamente que podia, se tinha estado sozinha ou tinha brincado com o grupo.
A resposta era, maioritariamente, a mesma: “Estive a brincar com Fulana, mas não te preocupes, eu não me importo que não me deixem brincar com eles, eu estou bem.”
Claro que não estava, mas os pais não podiam fazer muito. Pois, embora todos os pais queiram que os seus filhos sejam amados pelos colegas, essa não é uma tarefa que dependa deles – ninguém pode “obrigar” ninguém a gostar de ninguém.
Terça-feira passada, esta criança voltou a ser agredida com intensidade por uma dessas duas colegas.
Enquanto estava no WC com a sua única amiga, foi abordada pelas duas principais instigadoras do grupo que destilaram o seu ódio para cima dela. Perante uma reacção da agredida, uma das agressoras deu-lhe uma estalada. A agredida ia reagir, não fosse a amiga chamá-la a atenção para a circunstância de estar a sangrar pelo nariz. A pequena não quis dar parte fraca e escondeu o quanto pôde esse facto dos colegas – iria ser alvo de chacota, pensou.
No fim do dia, estava de rastos. Tinha sofrido e estava a sofrer.
Contou à mãe. Contou à irmã. Não quis contar a mais ninguém.
O que fez a mãe da criança violentada?
Insistiu para que reagisse.
Ela não fez nada, não conseguiu, mas a irmã agiu: No dia seguinte passou uma rasteira à agressora e ela estatelou-se no chão!
Fez mal? Com franqueza, deixemo-nos de querer ser politicamente correctos, deixemo-nos de tretas: Fez! Fez bem. “Defendeu” a irmã que estava a ser vítima de agressões.
Como reagiram os colegas?
Ameaçaram a vítima mais uma vez, fizeram-no em grupo, por covardia (eram 17 contra uma), preveniram-na que no recreio da tarde ela ia ver o que era bom, que aí é que ia chorar.
A criança, à hora do almoço quase tinha um colapso. Chorou, chorou, disse que não queria voltar para aquela escola, que quem lhe dera morrer!
O que fez a mãe da ofendida?
Tentou descansá-la, apoiá-la. Pediu-lhe para não se preocupar que iria resolver o problema, que não iria deixar que nada de mal lhe acontecesse.
Foi, então, falar com a professora, contou-lhe o que se passava e solicitou-lhe que estivesse especialmente atenta, que estivesse prevenida. A professora confirmou que já se tinha apercebido de alguma coisa estranha na classe, mas não sabia exactamente o quê. Que eles se peganhavam, mas que eram todos, de uma forma geral. A professora mostrou-se cooperante.
Enquanto falava com a professora, do lado de fora da escola, a mãe da agredida percebeu que o grupo agressor estava à porta da escola e continuava a ameaçar a sua filha com gestos e palavras inapropriadas. Mostravam-se insolentes e provocadores.
A mãe falou com a professora, mas não ficou sossegada, face à atitude dos colegas.
Foi trabalhar, mas não trabalhou… Passou a tarde a ver como haveria de resolver o problema. Tentou falar com uma psicóloga conhecida, mas não a encontrou. Tentou ligar para a linha bullying, mas não conseguiu – o número de telefone que consta das informações já não está activo, mudou. Quando o conseguiu saber, informaram-na que só funcionava das 18h às 20h. Esperou. Esteve a tarde toda a fervilhar.
Resolveu ir falar com a mãe de um desses colegas. Foi. A mãe dele mostrou-se preocupada, admirada e prometeu resolver o problema.
A mãe da agredida continuava a pulular. Só ficaria sossegada quando voltasse a ver a filha.
A mãe da agredida telefonou ao marido a quem contou o que se estava a passar. O pai da agredida rebentou. Foi à escola. Foram os dois à escola. Esperaram pelo toque. Agiram de cabeça quente. Estavam nervosos. Agiram!
O pai da agredida por várias vezes afirmou, em tom elevado, é verdade, que, se queriam bater na filha dele que o fizessem, mas de um para um, não 17 contra um. Desafiou (não dirigindo-se às crianças directamente, mas em alta voz) cada um dos agressores a confrontarem-se com a filha, individualmente, para se saber, afinal, quem eram os heróis.
Na frente da mãe da agredida, o colega, filho da pessoa com quem ela tinha estado a falar naquela tarde, atestou que andavam a perseguir e a bater à agredida porque aquelas duas instigadoras lhes pediam para o fazer. (Não se riam disto, e não digam que se vão é porque querem, que ninguém obriga ninguém - a valentia dos covardes apoia-se na fragilidade dos outros, e é bem mais fácil, sabêmo-lo, estar do lado dos mais fortes do que do lado dos mais fracos!)
A mãe pediu justificações ao pai de uma das principais agressoras. Mas esse pai teve uma atitude insolente tal qual a que a filha tem, foi cínico, … hipocritamente calmo. Tal atitude teve na mãe da agredida um efeito nefasto. Fê-la reagir como ela não queria reagir.
Quando a mãe da agredida, a meio da conversa, referiu ao pai da agressora que isto era bullying, o ilustre pai riu-se cinicamente, como quem diz “esta é maluca” e replicou: “bullying, ã, ora essa. E também não conhece a sua filha no contexto escola.”
Pois não, não conhece, assim como esse pai também não conhece a sua filha – ou para a filha dele essa máxima não se aplica?
Quando confrontado com o facto de ser a filha dele uma das que pedia para os outros baterem na agredida, respondeu petulante: “E quem diz isso? As crianças dizem o que quiserem.”
Em nenhuma altura este pai referiu que iria averiguar o que se passava, que a iria repreender a filha, ou que iria falar fosse com quem fosse. Este pai demonstrou que considerava que a filha dele era uma criança fofinha e inofensiva.
Os pais da agredida agiram mal?
Agiram, certamente… excederam-se… Objectivamente podemos dizer que será um comportamento incorrecto. É.
Subjectivamente?
É fácil dizer o que está certo ou errado quando não é nada connosco. É fácil dizer como mover-se quando não se trata dos nossos filhos. É fácil falar quando se está de fora. Não é fácil para quem passa por elas.
A mãe da agredida hoje foi falar com a Directora da escola, “justificar-se” e esclarecer qualquer mal entendido.

… Quiseram os agressores hoje passar a vítimas…
Fizeram-no de tal forma que a criança agredida afiançava, ao sair da escola, que a culpa era dela. Que ela é que tinha provocado tudo…
Mal de nós se depois tudo isto os agressores passam a vítimas e os agredidos passam a carrascos!!!!

E agora pergunto: Ter-se-à consciência de que isto é bullying? Não!
“São atitudes de crianças”, disseram-me! Bullying não é.

Não????
Volto à pergunta crucial: O que é o bullying? Como se manifesta? Quais as suas consequências?
Podemos obter respostas aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui.
Penso que precisamos todos de mais informação sobre o tema. Professores, funcionários das escolas, pais, deveriam ter formação específica sobre esta matéria. Deveriam saber exactamente como detectar estas conjunturas, como agir, o que fazer.
Há que denunciar as situações. Os agredido, ou seus pais, não devem envregonhar-se, deixem essa vergonha para os agressores e os seus progenitores que é a quem ela pertence.
Há que referenciar as crianças que atacam, identificá-las, vigiá-las, corrigi-las.
Há que defender os que padecem, protegê-los, apoiá-los.
É de primordial importância que exista nas escolas um espaço, um gabinete, aonde as crianças e jovens, vítimas ou simples testemunhas, possam ir denunciar aquilo que viveram ou viram acontecer.
Deixo um alerta: Pais, estejam atentos. Ajam! E façam-no quer os vossos filhos estejam na posição de vítimas quer estejam na de ofensores.
Existe uma linha específica para o bullying, que pertence à Associação Nacional de Professores, para a qual se pode ligar das 18h às 20h: agora esse número é o 961 333 059.
Falem na escola atempadamente, digam à professora, à Directora, aos funcionários.
Se não obtiverem resposta positiva da escola, contactem a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, o Ministério Público. O Agrupamento, a DREN, o Ministério da Educação, a Ministra se for preciso. O Primeiro-ministro, o Presidente da República. Seja quem for.
Denunciem, não fiquem calados.