sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Exemplo solidário


Numa escola qualquer, algures no universo, algumas turmas programaram e realizaram uma visita de estudo de final de ano.
Essa viagem, porque era a uma povoação distante e compreendia a visita a vários locais de interesse, acabou por ficar um tanto ao quanto dispendiosa e todos os alunos tiveram que pagar uma quantia um pouco elevada.
Aconteceu que um dos alunos de uma das salas informou o seu professor que não iria participar no passeio pois não podia pagar o que lhe era devido.
Com um pequeno gesto, o professor dessa turma imprimiu aos seus alunos, mais uma vez, o sentimento de SOLIDARIEDADE:
Primeiro perguntou-lhes se gostariam que aquele colega os acompanhasse na excursão – Todos responderam que sim;
Depois perguntou-lhes se estariam dispostos a ajudá-lo financeiramente – Todos responderam que sim.
Disse-lhes então que deveriam conversar com os pais sobre esse assunto e, caso assim eles entendessem, deveriam levar para a escola a sua contribuição – o que quisessem e pudessem, nunca excedendo os € 0,50 por aluno. Disse-lhes, ainda, para não se preocuparem, porque se o dinheiro recolhido não chegasse (que não chegaria, pela certa), poria ele o restante, pois estava ali para os auxiliar sempre que tivessem problemas, fossem eles monetários ou não.

Pois bem, esse aluno foi ao passeio muito bem-disposto e ninguém, nem o próprio, teve a sensação da desigualdade, pelo contrário - foi-lhes transmitida a ideia de que aquele colega era um amigo que tinha uma dificuldade que poderia ser ultrapassada se todos colaborassem. O aluno em questão sentiu-se bem integrado na turma, pois percebeu que todos gostavam dele e da sua companhia.

Belo gesto, não?

terça-feira, 25 de maio de 2010

CARTA DE UM ANGOLANO NO ESTRANGEIRO



Partimos para a pedreira
Bem sabes que não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos,
Partimos para novamente sermos os contratados
E os explorados
Para sermos os sem eira nem beira

Mão de obra barata, partimos
Para construirmos e edificarmos
Com a força dos nossos braços vigorosos
E dos nossos peitos musculosos
Os prédios, as estradas, as pontes...
Em terras alheias, terras distantes

Partimos
Bem sabes que não é isto que queríamos
Tu que sonhaste com doutores e engenheiros
Agora tens-nos carpinteiros e pedreiros
A desenvolver países estrangeiros
Países dos outros

Partimos para sermos espancados
E levarmos bofetadas
Dos cabeças-rapadas
Partimos para sermos desdenhados
E chamados com desprezo, pretos!
Nestes lugares longínquos, lugares incertos

Partimos, mas não queríamos partir
Lá no Menongue queríamos construir
Os hospitais, as escolas, as pontes...
Lá queríamos erguer um arranha-céus
Para então gargalharmos desafiantes
Os brancos europeus
(Mas lá no Menongue, não aqui em Portugal
Que isto nos faz sentir mal)

Partimos
Bem sabes que nos forçaram a partir
Fugimos
Bem sabes que nos forçaram a fugir
Mas não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos

O que nós queríamos
O que nós desejávamos
É construir uma ponte
E uma auto-estrada gigante
Que unisse os corações dos angolanos,
É isto que desejamos todos estes anos

Partimos
Mas bem sabes mãe, não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos!

Décio Bettencourt Mateus - Escritor Angolano -in "A Fúria do Mar"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A entrevista do primeiro-ministro!


A entrevista do primeiro-ministro ontem:
- Blá, blá, blá, aumento de impostos; Blá, blá, blá, diminuição dos salários; Blá, blá, blá, asfixia até 2013; Blá, blá, blá, não peço desculpas…

Ora aí está, de todas as informações importantíssimas que o nosso primeiro veio ontem dar ao país, eu retive apenas uma: Se já estamos sem ar, até 2013 vamos de certeza morrer asfixiados.


Eu quero lá saber se ele pede, ou não pede desculpa ao país (na verdade, nem sei qual dos dois comparsas é o mais ridículo: se o que pede desculpas, mas aprova as medidas, se o que as aprova, e não pede desculpas). Com ou sem desculpas, são ambos responsáveis pelo aumento dos impostos, pela diminuição dos salários e pelo aumento do custo de vida. Ainda por cima, dizem os dois que estão a cumprir o seu dever.

Se podiam fazer de outra maneira?
Podiam, mas não era a mesma coisa!
Quantos interesses teriam que abalar! Quantos incómodos teriam que ter! Quantos inimigos poderosos haveriam de aborrecer!
… E era uma chatice.

Quem paga a crise, quem paga? Sempre os mesmos!

Depois, ainda teve lata de falar em “esforço colectivo de todos” e em “discriminação positiva em relação aos portugueses com salários mais baixos” – Quão diferente é perder cem em mil, ou mil num milhão!



Enquanto isso… a Assembleia da República gasta mais de 100 mil euros para apetrechar os gabinetes dos parlamentares com um terceiro terminal informático.
É o país em que vivemos!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu. (Bíblia)



(imagem retirada da net)


A visita do Papa escandaliza-me! Escandaliza-me e chateia-me.
Eu percebo que a maior parte dos portugueses sejam católicos. Concebo que grande parte da população fique entusiasmada por acolher o seu chefe religioso. Também entendo que o Vaticano seja um Estado e o papa um Chefe de Estado. Até compreendo que Portugal queira ser hospitaleiro e se preocupe em receber bem este chefe religioso/de Estado… Percebo tudo isso, mas, diabo(!), não concebo (acho absolutamente abusivo) todos os exageros cometidos à volta da visita do papa a Portugal.
Numa altura em que o país se debate com uma das maiores crises económicas dos últimos anos; num período em que todos os dias nos pedem para sermos pacientes porque, a coberto da tal recessão, somos forçados que fazer sacrifícios que vão para além das nossas forças; numa época em que, a toda a hora, são implementadas medidas de austeridade; num tempo em que as empresas fecham sucessivamente as suas portas, o rendimento real / disponível das famílias diminui drasticamente, o número de desempregados aumenta de forma vertiginosa e o seu subsídio se escapule, o reemprego é coisa mirífica e a reforma cada vez mais distante e diminuta; numa era em que cada vez menos famílias têm o que pôr na mesa do jantar…

… Esbanja-se, sem pudor, 37 milhões de euros diários, na visita do papa a Portugal; dá-se tolerância de ponto aos funcionários públicos, fechando-se hospitais (com consultas e cirurgias desmarcadas) e escolas, tribunais e conservatórias, serviços de finanças e de segurança social…; monta-se a maior força de segurança de sempre em meios materiais e humanos envolvidos; encomenda-se, à “vista alegre”, um serviço de porcelana bordado a tinta de ouro para a viagem de regresso do papa; usa-se um microfone revestido a ouro; confeccionam-se vestes litúrgicas do mais fino pano e com os seus bordados a ouro, para engalanar bispos, padres e diáconos; vão buscar-se as flores à Madeira para enfeitar os diversos altares…
E tudo isto para quê?
Bem, segundo os mais devotos, entre eles o nosso Presidente da República, a visita do Papa a Portugal serve para nos transmitir esperança, confiança, e estímulo para o futuro.
Pois bem, mas como de não é com esperança que se enchem as barrigas…
Amanhã, quando todos acordarmos deste inebriante sonho, lá teremos que fazer contas à vida, e iremos perceber que, mesmo depois de todas as orações, o IVA aumentou, os bens de consumo encareceram, os rendimentos diminuíram, as empresas continuaram a encerrar, o desemprego cresceu… enfim, que estamos todos mais pobres!
Ao que parece, para além do indecoroso desperdício, o impacto na economia foi /está a ser reduzido – nem no sector hoteleiro se verificam grandes subidas.
** Recentemente foram acrescentados à lista dos “Pecados Mortais” mais alguns, os quais foram definidos pelo papa. Hoje, a Igreja católica considera pecado mortal a desigualdade social, isto é, a pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros.
E mais não digo, cada um ajuíza como quiser!


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esse Desemprego! - Bertold Brecht


Meus senhores, é mesmo um problema
Esse desemprego!
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão.
Quando queiram os senhores! A todo momento!
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve desaparecer.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!