quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quero féeeerias!!!!


Está um calor de morrer… e eu aqui… a trabalhar…
Desejo desesperadamente férias… Umas férias merecidas que teimosamente não principiam…
Parecia-me que quando as minhas raparigas ficassem de férias da escola, tudo acalmaria. Bem me enganei! A lufa continua sem cessar: Pois é o trabalho, os livros, a escrita, a televisão, o Centro de Estudos, o Karaté, as festas, os escuteiros, as reuniões, os espectáculos, os passeios, os jantares, as visitas… e não há tempo para tudo!
São tantas as solicitações, tantos os afazeres, que acabo por não conseguir dar resposta a tudo. Deixo para trás prazeres prescindíveis que não queria conceder…



Anseio encontrar uma praia silenciosa, onde as ondas do mar possam desmaiar serenamente na areia… onde o vento sussurre, sem preocupações.

Queria poder não pensar… e não andar… e ter os meus pés mergulhados na água do mar… e ensombrar-me num guarda-sol qualquer, no meio do nada, mas perto de tudo.

Gostaria de ter tempo para fazer o que mais me apetece, e deixar de lado as indispensabilidades…

Preciso de férias!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Protopoema - José Saramago


Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os
dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os
barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que
vagarosamente deslizam sobre a película luminosa
dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas
águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e
firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo
acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu
corpo despido brilha debaixo do sol, entre o
esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas
da memória e o vulto subitamente anunciado do
futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar
calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que
as aves digam nos ramos por que são altos os
choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem,
sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas
verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra
viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se
juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.

(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)

terça-feira, 22 de junho de 2010

CÓDIGO DE ÉTICA DOS ÍNDIOS NORTE-AMERICANOS

pintor mexicano Alfredo Rodri­guez
*1. Levante-se com o Sol para orar. Ore sozinho. Ore com frequência.
O Grande Espírito o escutará se você, ao menos, falar.
*2. Seja tolerante com aqueles que estão perdidos no caminho. A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e a avareza, originam-se de uma alma perdida.
Ore para que eles encontrem o caminho do Grande Espírito.
*3. Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você.
*4. Trate os convidados em seu lar com muita consideração. Sirva-os o melhor alimento, a melhor cama e trate-os com respeito e honra.
*5. Não tome o que não é seu. Seja de uma pessoa, da comunidade, da natureza, ou da cultura. Se não foi ganho nem foi dado, não é seu.
*6. Respeite todas as coisas que foram colocadas sobre a Terra. Sejam elas pessoas, plantas ou animais.
*7. Respeite os pensamentos, desejos e palavras das pessoas. Nunca interrompa os outros nem ridicularize, nem rudemente os imite. Permita a cada pessoa o direito da expressão pessoal.
*8. Nunca fale dos outros de uma maneira má. A energia negativa que você colocar para fora no universo, voltará multiplicada para si.
*9. Todas as pessoas cometem erros. E todos os erros podem ser perdoados.
*10. Pensamentos maus causam doenças da mente, do corpo e do espírito. Pratique o optimismo.
*11. A natureza não é para nós, ela é uma parte de nós. Toda a natureza faz parte da nossa família Terrena.
*12. As crianças são as sementes do nosso futuro. Plante amor nos seus corações e regue com sabedoria e lições da vida. Quando forem crescidos, dê-lhes espaço para que cresçam.
*13. Evite magoar os corações das pessoas. O veneno da dor causada a outros, retornará a si.
*14. Seja sincero e verdadeiro em todas as situações. A honestidade é o grande teste para a nossa herança do universo.
*15. Mantenha-se equilibrado. Seu Psíquico, seu Espiritual, seu Emocional, e seu Físico, todos necessitam ser fortes, puros e saudáveis.
Trabalhe o seu Físico para fortalecer o seu Psíquico.
Enriqueça o seu Espiritual para curar o seu Emocional.
*16. Tome decisões conscientes de como você será e como reagirá. Seja responsável por suas próprias acções.
*17. Respeite a privacidade e o espaço pessoal dos outros. Não toque as propriedades pessoais de outras pessoas, especialmente objectos religiosos e sagrados. Isto é proibido.
*18. Comece sendo verdadeiro consigo mesmo. Se você não puder nutrir e ajudar a si mesmo, você não poderá nutrir e ajudar os outros.
*19. Respeite outras crenças religiosas. Não force suas crenças sobre os outros.
*20. Compartilhe sua boa fortuna com os outros. Participe com caridade.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Mia Couto - Hoje em Famalicão

Hoje, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, não perca esta conversa sobre os seus livros e a sua escrita.
Espero não ser eu a faltar...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Igualdade!


(clique para ampliar)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

In claris non fit interpretatio!

Na entrada do meu escritório existe um letreiro que diz:


ESTE ESCRITÓRIO VIVE DOS SERVIÇOS PRESTADOS A FAMILIARES E AMIGOS.

PORTANTO, NÃO SE ESQUEÇA DE PEDIR A CONTA
.



Ora, não sei porquê, quem lá entra lê o dito, e até acha muita gracinha, apoia a ideia, mas ninguém considera que a si se aplica .
– É para os outros, de certeza! – Discorre o cliente.

Assim pensa o familiar, o familiar do familiar, o amigo, o familiar do amigo, o amigo do familiar, o amigo do amigo… e até o conhecido...


Ora bolas! O letreiro diz expressamente: AMIGOS!!!!! FAMILIARES!!!! (qual foi a parte que não entenderam????)… É lógico que este “recadinho” se aplica a TODA A GENTE!

As pessoas esquecem-se (ou querem esquecer-se) que esta é a minha PROFISSÃO (- profissão implica retribuição!).

...E depois, quem fica constrangida sou eu!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Bilhete de Identidade - Mahmud Darwish

Escreve!
Sou árabe
e o meu bilhete de identidade é o cinquenta mil;
tenho oito filhos
e o nono chegará no final do Verão.
Vais zangar-te?

Escreve!
Sou árabe.
Trabalho na pedreira
com os meus companheiros de infortúnio.
Arranco das rochas o pão,
as roupas e os livros
para os meus oito filhos.
Não mendigo caridade à tua porta,
nem me humilho nas tuas antecâmaras.
Vais zangar-te?

Escreve!
Sou árabe.
Sou um homem sem título.
Espero, paciente, num país
em que tudo o que há existe em raiva.
As minhas raízes,
foram enterradas antes do início dos tempos
antes da abertura das eras,
antes dos pinheiros e das oliveiras,
antes que tivesse nascido a erva.

O meu pai descende do arado,
e não de senhores poderosos.
O meu avô foi lavrador,
sem honras nem títulos,
e ensinou-me o orgulho do sol
antes de me ensinar a ler.
A minha casa é uma cabana,
feita de ramos e de canas.
Estás feliz com o meu estatuto?
Tenho um nome, não tenho título.

Escreve!
Sou árabe.
Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com os meus filhos;
não me deixaste nada,
apenas estas rochas;
O governo vai tirar-me as rochas,
como me disseram?

Escreve, então,
no cimo da primeira página:
a ninguém odeio, a ninguém roubo.
Mas, se tiver fome,
devorarei a carne do usurpador.
Tem cuidado!
Cuidado com a minha fome,
Cuidado com a minha ira!







(Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza!)