Partimos para a pedreira
Bem sabes que não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos,
Partimos para novamente sermos os contratados
E os explorados
Para sermos os sem eira nem beira
Mão de obra barata, partimos
Para construirmos e edificarmos
Com a força dos nossos braços vigorosos
E dos nossos peitos musculosos
Os prédios, as estradas, as pontes...
Em terras alheias, terras distantes
Partimos
Bem sabes que não é isto que queríamos
Tu que sonhaste com doutores e engenheiros
Agora tens-nos carpinteiros e pedreiros
A desenvolver países estrangeiros
Países dos outros
Partimos para sermos espancados
E levarmos bofetadas
Dos cabeças-rapadas
Partimos para sermos desdenhados
E chamados com desprezo, pretos!
Nestes lugares longínquos, lugares incertos
Partimos, mas não queríamos partir
Lá no Menongue queríamos construir
Os hospitais, as escolas, as pontes...
Lá queríamos erguer um arranha-céus
Para então gargalharmos desafiantes
Os brancos europeus
(Mas lá no Menongue, não aqui em Portugal
Que isto nos faz sentir mal)
Partimos
Bem sabes que nos forçaram a partir
Fugimos
Bem sabes que nos forçaram a fugir
Mas não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos
O que nós queríamos
O que nós desejávamos
É construir uma ponte
E uma auto-estrada gigante
Que unisse os corações dos angolanos,
É isto que desejamos todos estes anos
Partimos
Mas bem sabes mãe, não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos!
Décio Bettencourt Mateus - Escritor Angolano -in "A Fúria do Mar"
Bem sabes que não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos,
Partimos para novamente sermos os contratados
E os explorados
Para sermos os sem eira nem beira
Mão de obra barata, partimos
Para construirmos e edificarmos
Com a força dos nossos braços vigorosos
E dos nossos peitos musculosos
Os prédios, as estradas, as pontes...
Em terras alheias, terras distantes
Partimos
Bem sabes que não é isto que queríamos
Tu que sonhaste com doutores e engenheiros
Agora tens-nos carpinteiros e pedreiros
A desenvolver países estrangeiros
Países dos outros
Partimos para sermos espancados
E levarmos bofetadas
Dos cabeças-rapadas
Partimos para sermos desdenhados
E chamados com desprezo, pretos!
Nestes lugares longínquos, lugares incertos
Partimos, mas não queríamos partir
Lá no Menongue queríamos construir
Os hospitais, as escolas, as pontes...
Lá queríamos erguer um arranha-céus
Para então gargalharmos desafiantes
Os brancos europeus
(Mas lá no Menongue, não aqui em Portugal
Que isto nos faz sentir mal)
Partimos
Bem sabes que nos forçaram a partir
Fugimos
Bem sabes que nos forçaram a fugir
Mas não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos
O que nós queríamos
O que nós desejávamos
É construir uma ponte
E uma auto-estrada gigante
Que unisse os corações dos angolanos,
É isto que desejamos todos estes anos
Partimos
Mas bem sabes mãe, não é isto que queríamos
Não foi com isto que sonhámos!
Décio Bettencourt Mateus - Escritor Angolano -in "A Fúria do Mar"
Já conhecia a cata, mas foi bom relê-la.
ResponderEliminarCarlos,
ResponderEliminarÀs vezes esquecemo-nos, (ou) nem reparamos, (ou) se reparamos nem queremos saber, (ou) até gostamos, do sofrimento dos outros.
Um abraço
Teresa: vim conhecer seu interessante espaço. Concerteza voltarei mais vezes. Agradeço sua visita à Mulembeira. Espero volte mais vezes. Agradecido pela postagem desta carta.
ResponderEliminarKandandu (abraço)
Décio,
ResponderEliminarO prazer foi todo meu!
... E obrigada por me deixar publicar este poema...