quinta-feira, 11 de março de 2010

Escravatura do Mundo Actual


Hoje dei boleia a uma mãe que tem a sua filha no mesmo infantário que o meu filho.
Aproveitou ela para me expor um caso laboral do seu marido, e aferir da sua legalidade.
Contou-me, então, que enquanto o seu marido, único "empregado" de uma certa serralharia, trabalhava, uma determinada máquina se avariou. Asseverou-me que ele a estava a utilizar da forma como sempre fez. A máquina simplesmente avariou.
Ora, o “patrão” resolveu o assunto da forma mais fácil – mais fácil e mais desonesta: Atribuiu, a seu bel prazer, um preço à máquina (mil e tal euros), e pôs o “empregado” a pagá-la.
Não lhe desconta no ordenado, é certo, mas obriga-o a trabalhar horas extraordinárias, não retribuídas, até perfazer aquele valor.
Resumindo, o “empregado” tem trabalhado todos os Sábados… a custo zero.
Bela maneira que o “patrão” encontrou para vender aquela velha máquina, sim senhor!
Nesta altura, já lá vão quatrocentos e tal euros de trabalho, que o “patrão” meteu ao bolso à custa do “empregado”.
Diz a senhora que ele é bom no que faz: “Faz um portão do princípio ao fim… e cada portão!” – afiançou-me.

Ouvi o que me disse e respondi-lhe que deveria reclamar.
A senhora objectou-me constrangida: “Como é que ele vai reclamar? Eu estou desempregada, faço umas horas em casas de senhoras. O trabalho é pouco. Temos casa para pagar, uma filha para sustentar… Ainda ontem fui dispensada de uma casa, porque, disse a patroa, estamos em crise…”
Perguntei-lhe porque é que o marido não se lançava sozinho na arte, mas imediatamente me arrependi. Dei-me logo conta que isso não era solução. As máquinas são caras e quem está aflito com as contas, não as pode comprar.
E ainda nos pedem para apertar o cinto…
Eu queria saber, qual cinto?

10 comentários:

  1. novo capítulo na história de Alice ,
    lá no

    ...continuando assim...

    obrigada por seguires:)

    bj
    teresa

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  2. Querida Teresa,
    Sinceramente nem sei o que escrever...
    A sociedade em que vivemos é, pura e simplesmente, uma vergonha!
    Mas o pior de tudo é que ninguém se preocupa! Enetenda-se, quem tem o "poder" de alterar o estado de coisas a que chegamos.
    Bjinho e boa semana :)

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  3. Marquês,

    ... A propósito da crise, pode fazer-se tudo...
    Cabe-nos a nós lutar contra este estado de coisas.

    Um beijinho para ti também

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  4. Há cada vez mais patrões assim. A retroceder a esta velocidade vertiginosa, um dia destes acordamos no século XVII

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  5. Carlos,

    Tem razão... se é que, em muitas coisas, já não lá estamos...

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  6. Cara Teresa Fidalgo
    Muitas vezes dizemos que fulano e sicrano enriqueceu desonestamente, à custa disto e daquilo, mas não conhecemos bem os contornos da coisa. Pois aqui está uma «coisa» bem explicita, que demonstra até onde pode chegar a pouco vergonha e a ladroagem disfarçada de honestidade. Estes lobos, verdadeiros predadores sociais, valem-se da crise para explorar ainda mais os necessitados. Concordo plenamente consigo. Estamos perante uma manifestação de escravatura. Mas, pergunto, teria a ACT alguma atitude a oferecer a este pobre coitado, caso soubesse deste caso?
    Briosas saudações

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  7. Poeta do Penedo,

    É com estas coisas, e outras do género, que "grão a grão vai a galinha (ou melhor, o galináceo) enchendo o papo"; sempre à custa daqueles que não podem ou não sabem defender-se.
    A ACT está lá para defender quem precisa, e age em favor do trabalhador... Mas aqui até nem é ultrapassada a questão da lei... Este "patrão", denunciado, teria que repôr as horas em atraso daquele trabalhador, e seria sancionado. O problema é depois, pois que, como sabemos, a corda quebra sempre para o lado mais fraco, e há mil e uma maneira de "fazer a vida negra" a um empregado.

    De qualquer forma, eu sou sempre de opinião que se devem denunciar estas situações e lutar contra elas...

    Retribuição das saudações

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  8. Olá Teresa,
    Já vi e já respondi :)
    Bjinho

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