terça-feira, 7 de setembro de 2010

"E tu? De que és inocente?" - JN


Não podia deixar de partilhar este pequeno artigo de Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, que manifesta de uma forma fantástica, aquilo que eu penso sobre o assunto.

... e mais não é preciso dizer...

"E tu? De que és inocente?" - JN



"Os seis condenados da Casa Pia vêm engrossar a chorosa lista de inocentes de que, como se sabe, estão cheios tribunais e cadeias de todo o Mundo.

Até ver, e dependendo do resto do processo, a principal diferença entre os inocentes da Casa Pia e alguns dos outros inocentes (assassinos, violadores, assaltantes) é que estes não aparecem nas TVs a fazer queixa dos juízes aos Ex. mos Srs. Telespectadores nem a sua condenação (por crimes que, obviamente, nenhum deles cometeu) faz "aterrar" sobre a Justiça o apocalíptico Reino das Trevas (ou, ainda pior, das "Trêvas").

Como os demais "inocentes", os da Casa Pia irão "até ao fim" do Universo, da Física e da Metafísica para obter a condenação dos juízes que os condenaram e, se não for pedir muito, das vítimas que lhes "fizeram mal".

Ora quis o acaso objectivo que, no mesmo dia da sentença da Casa Pia, passasse na RTP um filme em que, a certa altura, John Turturro é metido na cela onde está Schwarzenegger e faz as apresentações perguntando imediatamente: "E tu? Estás aqui inocente de quê?".

"Maravilhosos acasos, aqueles que agem com precisão", diz Bresson."

2 comentários:

  1. Olá Teresa Fidalgo
    o seu regresso trouxe luz à blogosfera. Sinto-me muito mais acompanhado.
    Pois é. Carlos Cruz condenado é uma mancha difícil de desaparecer na nossa memória colectiva. O Carlos Cruz é um símbolo nacional, que nasceu no último quartel do sec. XX, e ganhou fortes raízes. Desde o saudoso zip zip, de 1969, que ele me começou a fazer companhia em muitos serões. Uma referência de integridade cívica. Não tenho palavras para descrever a minha tristeza e desilusão, talvez porque seja um crónico inocente...
    Gostaria imenso que, muito brevemente, ele conseguisse provar que na, verdade, estamos perante um tremendo caso de erro judicial.
    É que, é feio demais.
    Briosas saudações.

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  2. Poeta do Penedo,

    Pela experiência que tenho (que não é muita, dirão) asseguro que, no nosso sistema judicial, é muuuuuiiiito mais fácil um criminoso ser absolvido, do que um inocente ser condenado.
    Em nome do princípio “in dubio pro reu”, um julgador só condena quando as provas apresentadas em juízo são suficientemente fortes e consistentes no sentido de poder ser atribuído àquele arguido, àquele sujeito, a imputação daquele crime.
    A par disso, a investigação nem sempre é “cuidadosa” (muitas vezes não é) e assistimos a resmas de prova a ser deitada fora por incumprimento de formalidades essenciais (aliás, a maioria dos incidentes do processo casa pia prenderam-se com questões processuais).
    É muito mais difícil estar da banda da vítima – por todos os motivos.
    Quantas vezes vemos as vítimas desfeitas porque não foram capazes de apresentar prova suficiente para condenar o seu ofensor.
    Todos sabemos que esse é o sentimento geral: quantas vezes, cada um de nós, já soube de vítimas que desistiram de apresentar queixa em tribunal porque sabem que o processo não os levará a lado nenhum, a não ser ao desgaste.
    Não conheço este processo em si, e por esse facto, não me pronuncio em particular, mas que a história da cabala não me convence, lá isso não convence. Até porque: Quem é o cc. Para além de um apresentador de programas de televisão? Qual o interesse de grandes forças (políticas e outras) em o condenar? Que peso tem ele no país para “gente importante” o querer “afastar”?
    Ninguém; nenhumas; nenhum.

    Até porque, se havia muita gente a pugnar pela condenação destes arguidos, muita mais havia (e muito mais poderosa) a pelejar pela sua absolvição.

    Saudações (sempre Briosas)

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