sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Petição internacional de apoio a Antonio Tabucchi

A petição já tem 2500 assinaturas, mas entre os nomes sonantes é difícil encontrar italianos. "A iniciativa partiu do meu editor francês, o que considero bastante singular, sendo eu um escritor italiano", diz Antonio Tabucchi. Trata-se de um apelo internacional de solidariedade com o escritor, "alvo do poder berlusconiano", escrevem os promotores, a Gallimard.

O autor de "Afirma Pereira" começou a ser julgado em Maio na cidade de Pisa, acusado de "danos de imagem". O acusador é Renato Schifani, presidente do Senado, "segunda figura do Estado", como sublinha Tabucchi.

O "amigo de bilionários" quer uma indemnização de 1,3 milhões de euros por causa de um artigo que Tabucchi publicou em 2008 no jornal L"Unità. O escritor colocou-se então ao lado do jornalista Marco Travaglio (signatário da petição), que num artigo no mesmo jornal notara que os perfis sobre Schifani não referirem as ligações do político a pessoas condenadas por laços à máfia. Tabucchi comenta a "pouca sorte" do senador, que ao longo de 15, 20 anos fundou empresas "sem nunca se aperceber que o fazia com mafiosos, presos sempre que ele acabava de sair" dessas empresas.

A petição quer chamar a atenção para o facto de Schifani não ter processado o jornal mas só o escritor: "isolar um intelectual é massacrá-lo", intimidá-lo é um ataque "à liberdade de expressão". E ainda "obrigar a imprensa italiana a dar conhecimento do caso". Entre os signatários contam-se Manuel Alegre, o cineasta Fernando Lopes ou a escritora Lídia Jorge. Também os prémios Nobel da Literatura José Saramago e o turco Orhan Pamuk. A Gallimard, diz Tabucchi, estava "cansada de defender só os escritores turcos".

Assim vai a Itália, "um belo país". Pelo menos, "a torre de Pisa está no lugar, o Coliseu também", desbafou Tabucchi.

NOTÍCIA DO PÚBLICO

********************************************************************************
PETIÇÃO

Para Antonio Tabucchi

As democracias livres precisam de indivíduos livres. De indivíduos indisciplinados, corajosos, criativos. Que ousem, que provoquem, que desassosseguem. É assim para os escritores cuja liberdade da ‘pluma’ é indissociável da própria ideia de democracia. Desde Voltaire e Vítor Hugo a Camus e Sartre, passando por Zola e Mauriac, a França e as suas liberdades sabem aquilo que devem ao livre exercício do seu direito de ver e de dever de alertar para a opacidade, das mentiras e das imposturas dos poderes. E a Europa Democrática, desde que foi construída, não parou de se confrontar com esta liberdade dos escritores contra abusos de poder e razões estatais.

E não é que na Itália, essa liberdade foi agora posta em causa através de um ataque desmedido dirigido a Antonio Tabucchi. O presidente do senado italiano, Renato Schifani, pediu-lhe em tribunal a soma exorbitante de 1350 mil euros devido a um artigo publicado no «Unita» – jornal que, no entanto, não é perseguido. O crime de Tabucchi foi interpelado Schifani, personagem central do poder berlusconiano, sobre o seu passado, as suas relações negociais e andanças duvidosas – questões sobre as quais se recusa a comentar. Interrogar o itinerário, a carreira e a biografia de um alto responsável público faz parte da necessidade e das legítimas curiosidades da vida democrática.

A escolha particular deste alvo – um escritor que não renuncia a exercer a sua liberdade – e pela soma reclamada – um montante astronómico para um caso de imprensa –, o objectivo é intimidar uma consciência crítica e, com isto, calar várias vozes. Das recentes perseguições contra a imprensa opositora a este processo dirigido a um escritor europeu, não podemos ficar indiferentes e passivos perante tal ofensa do poder italiano contra a liberdade de julgar, criticar e interpelar. É por isso que manifestamos a nossa solidariedade com Antonio Tabucchi e apelamos para que mais se juntem, assinando massivamente esta petição.

EU JÁ ASSINEI

2 comentários:

  1. Eu também já assinei.
    Se conhecesses o presidente do Senado, Renato Schifani, um advogado que, em tempos, advogou causas de pessoas com cheiros mafiosos, vir-te-ia vontade de assinar um milhão de vezes, caso fosse posível.

    Neste momento estou a assistir à manifestação de Roma. Quanta gente! Os cartazes, então, são mais expressivos que um grande discurso. E divertidíssimos!!
    Um beijinho.
    Ah! um aplauso especial a este post
    Alda

    ResponderEliminar
  2. Pois é D. Alda, agora sou eu que escrevo sobre Itália...
    Mas tinha mesmo que ser! Quem "conhece" Antonio Tabucchi sabe bem do que se está qui a falar!...
    Um grande beijinho

    ResponderEliminar